Sebo bovino e banha de porco da JBS viram combustível para aviação

Mais de 1,2 mi de toneladas de resíduos já foram reaproveitadas; no Brasil, Friboi estuda viabilidade de fornecimento para transformação dos produtos

Por Luis Roberto Toledo
01 de agosto de 2024 às 18h26

Resíduos animais provenientes das operações da JBS nos Estados Unidos, Canadá e Austrália estão sendo transformados em combustível para aeronaves. Em dois anos, 1,2 milhão de toneladas de sebo bovino e banha de porco já foram direcionadas para a produção de Combustível Sustentável para Aviação, conhecido como SAF (sigla em inglês para ‘sustainable aviation fuel’), e outros combustíveis renováveis. O uso do sebo bovino para a geração de biocombustível é conhecido como “cowpower”.

Segundo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as emissões de dióxido de carbono (CO₂) relacionadas à aviação aumentaram em média 2,6% por ano nos últimos 25 anos e o setor de aviação comercial responde por cerca de 5% da sobrecarga global do clima. Com isso, o SAF se apresenta como uma alternativa sustentável ao combustível fóssil, pois pode reduzir as emissões de carbono em até 70% e pode ser usado como uma mistura de até 50% no tanque de querosene de aeronaves comerciais.

“O setor de aviação foi historicamente desafiado na descarbonização, pois depende de combustível fóssil. Ao reaproveitar resíduos animais, contribuímos para o meio ambiente e ajudamos este setor crítico em seu processo de descarbonização”, afirma o CSO global da JBS, Jason Weller.

Combustível de aviação sustentável no Brasil

No Brasil, a Friboi iniciou estudos para testar a viabilidade de fornecer resíduos animais para a produção de combustível de aviação. Já a Biopower, também da JBS, avalia a viabilidade de produção de combustível renovável para navios, como opção ao bunker oil, combustível fóssil predominantemente utilizado pelas embarcações marítimas.

A Biopower é uma das maiores produtoras brasileiras de biodiesel a partir de resíduos orgânicos do processamento de bovinos – uma alternativa para emitir 80% menos gás carbônico em comparação ao diesel fóssil. A empresa possui três plantas em operação, nas cidades de Mafra (SC), Lins (SP) e Campo Verde (MT).

Biodiesel B100

Em 2023, a JBS deu início a um projeto para introduzir o uso de biodiesel 100% (B100) em sua frota própria de caminhões. Um caminhão da montadora holandesa DAF já utiliza o B100 com o objetivo de comprovar a qualidade do biocombustível como um importante substituto para o setor. O caminhão já passou de 120 mil km de uso. O resultado mostrou que o veículo abastecido com biodiesel 100% (B100) apresentou rendimento equivalente ao diesel e emissão de até 80% menos gás carbônico.

Os testes com B100 na frota de caminhões estão em linha com o movimento de expansão dos biocombustíveis na matriz de transportes do Brasil. Desde 1º de março, o aumento do percentual da mistura de biodiesel ao diesel vendido para o consumidor final já está funcionando na prática. O índice do biocombustível no diesel comercializado no país passou a ser de 14%.

A JBS foi a primeira empresa do país a obter a autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para abastecer sua frota de caminhões. Localizado no complexo industrial de Lins (SP), o bioponto, como é chamado, conta com duas bombas dedicadas exclusivamente ao B100 e tem a capacidade de oferecer 30 mil litros de combustível.