Essa brutal redução de 68% do número de estabelecimentos rurais dedicados à pecuária leiteira está levando a uma forte concentração da produção, observa o vice-presidente Enori Barbieri.
Nos últimos três anos verificou-se a maior taxa de abandono, consequência da conjugação de vários fatores como as secas que reduziram a oferta de alimento para o gado e a crise econômica que achatou o poder de consumo da população.
Os pequenos produtores, por falta de capacidade de investimento, não puderam acompanhar as novas tecnologias, portanto tiveram dificuldade em ampliar a produção e a produtividade. Assim, perseveraram na atividade os proprietários de estabelecimentos maiores, com alto grau de automação e agregação de tecnologia que apresentam melhor qualidade, maior produtividade e balanceamento dos custos.
“O microprodutor ficou de fora porque produzia pouco e para a indústria não compensa enviar o caminhão de coleta para apanhar a matéria-prima de um produtor com 3 ou 4 vacas”, explica Barbieri.
Entretanto, a maior taxa de desistência é daqueles que não conseguem produzir dentro da propriedade os insumos necessários para nutrição das vacas. Esses produtores não conseguem aumentar o plantel porque não tem comida para o rebanho – o que representa o maior item nos custos de produção.
O êxodo rural associado à sucessão nas famílias rurais também tem influência nesse cenário. Os filhos se mudam para as cidades e optam por atividades urbanas, enquanto os pais permanecem até encerrar o trabalho no campo e vender a propriedade rural.
O dirigente prevê que a concentração irá aumentar, favorecendo o surgimento de grandes e médias propriedades, com áreas mecanizadas onde o proprietário consegue plantar o pasto, fazer feno e manter baixos os custos de produção.
Debandada
A situação foi acelerada no último triênio com grande desistência da pecuária leiteira por causas multifatoriais.
Além do êxodo rural, da falta de capacidade de investimento e da interrupção da sucessão nas propriedades, a seca afetou a produtividade, a crise financeira baixou o consumo, o preço caiu e os custos subiram.
A concentração da produção na cadeia do leite assemelha-se ao que ocorreu no passado com a suinocultura, quando os cerca de 60 mil criadores foram reduzidos para os atuais 10 mil, sem prejuízos de produção.
Ao contrário: o plantel permanente de matrizes suínas cresceu de 300 mil para 800 mil porcas.
A produção de leite é uma atividade que se instalou em território catarinense na primeira metade do século passado, mas foi a partir da década de 1960 que começou a incorporar melhorias com a importação de vacas puras de origem da Alemanha.
A partir de então se desenvolveu uma (inicialmente) lenta e contínua incorporação de tecnologias em genética, nutrição animal, manejo, profilaxia, higiene, cultivo de pastagens, gestão e controle de custos.
A cadeia produtiva do leite é essencial para a segurança alimentar de qualquer país. Há 20 anos, praticamente todos os cerca de 200 mil estabelecimentos rurais produziam leite; hoje são apenas 170 mil propriedades rurais, das quais 24 mil se dedicam ao leite.
O IBGE identificou que, a cada ano, entre 1 mil e 1,5 mil produtores rurais desistem da pecuária leiteira comercial, ou seja, aquela que gera excedente. Mesmo assim, o leite ainda tem grande importância social e econômica para Santa Catarina.
Santa Catarina é o quarto produtor nacional e gera mais de 3 bilhões de litros ao ano. Proporciona renda mensal às famílias rurais e contribui para o controle do êxodo rural. O oeste catarinense responde por 75% da produção.
Solução
O presidente do Sistema Faesc/Senar-SC José Zeferino Pedrozo defende que uma das saídas racionais para as crises cíclicas que afetam a cadeia de lácteos é a exportação.
“Precisamos obter renda em dólar para melhor remunerar produtor e indústrias e, com o efeito cambial, repor os custos e as margens de rentabilidade”, afirma.
Paralelamente, o presidente da Faesc defende uma política de apoio ao setor que inclua medidas articuladas entre os governos da União e dos Estados para estimular, simultaneamente, a produção e o consumo, abrangendo a redução da tributação, EGF para o leite, combate às fraudes, criação de mercado futuro para as principais commodities lácteas e manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo.
Outras medidas incluem aquisição subsidiada de tanques de resfriamento e outros equipamentos para pequenos e médios produtores, o uso obrigatório de leite e derivados de origem nacional em programas sociais.