Gripe aviária: OMS alerta para surtos em vários países
Segundo professor da USP, a epidemia está prestes a se tornar uma pandemia em animais, com potencial para se espalhar para quase todos os continentes
Por Jornal da USP
COMPARTILHE NO WHATSAPP
O H5N1, mais conhecido como gripe aviária, faz parte da classe da influenza A. As cepas desse vírus atacam principalmente aves, tanto as silvestres quanto as de criação, mas também podem infectar mamíferos como doninhas, raposas, leões-marinhos, entre outros.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) emitiu, em janeiro, um alerta sobre surtos de gripe aviária em aves de países de quase todos os continentes; a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a situação é “preocupante”. As notícias de diversos focos de disseminação desse vírus em vários países podem caracterizar um dos piores surtos da gripe aviária já vistos em animais. Mas, antes de entender se mais uma pandemia pode estar próxima, o que é o vírus H5N1 e qual a sua forma de transmissão?
“O nome gripe aviária é o nome popular. Mas, para o vírus H5N1, o nome correto é vírus influenza A. Ele é chamado por esse nome porque tem duas proteínas na sua composição: uma chamada de hemaglutinina e a outra, de neuraminidase. Essas duas proteínas são as que dão os nomes para esses vírus, então, quando eu tenho, por exemplo, o vírus H1N1, eu tenho a glicoproteína hemaglutinina do tipo 1 e a neuraminidase do tipo 1”, explica o professor Jansen de Araújo, do Laboratório de Pesquisa em Vírus Emergentes do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). Ele também é participante do Projeto Rede de Vigilância de Vírus (Previr) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
Existem diversas combinações que podem ser feitas com o rearranjo dessas e, no caso da gripe aviária, vê-se que alguns subtipos de hemaglutinina do tipo 5 são de alta patogenicidade que causam doenças, como coloca Araújo. O nome popular dessa doença vem da sua grande capacidade de disseminação entre aves e também de seu alto grau de mortalidade nessas espécies.
Sobre a transmissão do vírus, o professor pontua: “Ele é transmitido pelo ar, muito parecido até com o coronavírus, por aerossol. Os animais que se infectam são as aves comuns ou, nesse caso, a gente está vendo bastante casos em aves silvestres selvagens. E quem se contamina? Quem entra em contato muito próximo com esses animais, seja em fundo de quintal, o tratador, o dono do animal, ou em grandes granjas, aquelas pessoas que trabalham, que estão em contato direto, podem acabar se infectando”. Porém, a similaridade com o coronavírus não fica apenas no modo de transmissão, a preocupação de uma pandemia em humanos também é uma relação entre os dois vírus.
Pandemia
Foto: Freepik
“Nesta epidemia, já está quase sendo decretada uma pandemia com relação a casos animais, ela já está espalhando em quase todos os continentes. Nós temos focos, surtos, já confirmados”, diz Araújo sobre a situação dos animais. O professor acredita que uma pandemia em humanos é mais difícil de ocorrer, já que é necessária uma mutação no vírus para aumentar a disseminação em humanos: “Esse vírus do subtipo H5N1 não tem uma facilidade tão grande de transmissão de humano para humano, tanto é que estão ocorrendo diversos casos em aviários, em aves migratórias, em aves silvestres, com mortalidade grande e poucos casos, até agora, registrados com infecção em humanos. Por enquanto, a nossa preocupação é que, se um vírus desses consiga se adaptar à população humana, aí sim, a gente poderia pensar numa próxima pandemia”.
Além da parte sanitária, que é extremamente importante, Araújo ressalta o impacto que a transmissão do vírus pode ter na economia brasileira: AEu acho que é fundamental a gente prestar atenção, aqui no Brasil, à parte econômica. Esse vírus causa um grande prejuízo nas grandes produções de frango, de aves e ovos em geral. Nós nunca acompanhamos um cenário tão rápido e se aproximando tanto do nosso país. Nós temos uma economia forte, o Brasil é considerado o maior exportador de carne de frango do planeta. Outras potências como Estados Unidos e a China perderam mercado quando tiveram a identificação de casos de influenza aviária no país e o Brasil hoje é um dos únicos grandes produtores de carne de frango que ainda está livre desse vírus na avicultura”. O Brasil é, atualmente, o maior exportador de frango do mundo e a presença do vírus H5N1 em seu território pode prejudicar imensamente essa posição e, consequentemente, toda a cadeia produtora e consumidora de aves e seus derivados.
Cuidados
Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA
Até o momento, o Brasil não registrou nenhum caso de contaminação por H5N1. Porém, isso só está sendo possível por um monitoramento e estudo constantes da parte dos laboratórios e instituições, como o Laboratório de Pesquisa em Vírus Emergentes da USP.
O professor Araújo explica a importância dessas observações: “Eu gostaria de salientar que nós estamos trabalhando, na verdade, nunca paramos de fazer esse trabalho de monitoramento e vigilância nas aves silvestres em diversos biomas do Brasil, de Norte a Sul, nas rotas migratórias, em locais de reprodução, locais em que as aves param aqui no Brasil antes de voltarem ao Hemisfério Norte, ou quando elas vêm para cá na sua migração. Então, nós fazemos esse trabalho há bastante tempo, temos bastante experiência com isso e continuamos a fazer essa vigilância e qualquer informação, qualquer detecção ou qualquer vírus novo que nós encontrarmos, isso será notificado aos órgãos responsáveis, como o Ministério da Agricultura, o Ministério da Saúde, para que as medidas sejam tomadas o quanto antes”.