No cenário do agronegócio, a prática do fornecimento de leite de descarte para bezerras ainda é comum, tanto no Brasil quanto globalmente. Esse leite provém de vacas em tratamento com antibióticos ou no período de carência desses medicamentos. Embora algumas fazendas já estejam pasteurizando esse leite na tentativa de melhorar sua qualidade, é importante entender que a pasteurização apenas reduz a carga microbiana, sem eliminar completamente os riscos associados.
Recentemente, uma pesquisa conduzida pela Embrapa Gado de Leite, em parceria com FMG, UFV, EPAMIG e FAPEMIG, revelou dados preocupantes sobre o uso do leite de descarte. A composição desse leite e do leite de descarte pasteurizado mostrou menor teor de sólidos totais e lactose, além de maior porcentagem de nitrogênio não proteico. Mais alarmante ainda, o leite de descarte apresentou uma contagem bacteriana total 27 vezes maior que o leite integral, e mesmo após a pasteurização, essa contagem permaneceu 15 vezes maior.
Em relação à saúde dos bezerros, a pesquisa não encontrou diferenças significativas no consumo de matéria seca total, ganho de peso, desenvolvimento do trato gastrointestinal ou avaliações de saúde, como dias de diarreia e febre, entre os diferentes tipos de leite. No entanto, os resíduos de antibióticos no leite de descarte e no leite de descarte pasteurizado resultaram em uma maior seleção de bactérias resistentes no trato gastrointestinal dos bezerros. O estudo avaliou sete antibióticos comuns na medicina veterinária e constatou aumento de resistência em cinco deles, um sinal alarmante para a saúde animal e humana.