FÚRIA DA NATUREZA
Tristeza: em pouco tempo, MT teve bois mortos pelo frio e outros por incêndios; relembre
Tragédias marcaram as vidas dos pecuaristas do estado no final de agosto e no mês de setembro. A esperança agora é por chuva e dias melhores
A natureza não tem dado trégua para os pecuaristas de Mato Grosso nas últimas semanas. Em um período menor do que um mês, criadores diferentes enfrentaram uma angústia semelhante provocadas por temperaturas extremas.
No dia 23 de agosto, ainda durante o inverno, uma onda de frio que atingiu o Brasil avançou pelo Centro-Oeste e provocou estragos em fazendas no estado. Segundo relatos de pecuaristas das cidades de Reserva do Cabaçal e Salto do Céu, no sudoeste de Mato Grosso, o frio que fez na madrugada de sábado para domingo, 23, vitimou diversos bovinos da raça nelore.
“Essas duas cidades, que ficam em uma região mais alta, há relato de sensação térmica na casa do 0 °C, algo extremamente incomum aqui em Mato Grosso. Pelo que eu soube, foram vários casos registrados nessas duas localidades”, disse o presidente do Sindicato Rural de São José dos Quatro Marcos (MT), Alessandro Casado.
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Para o criador de gado nelore P.O (Puro de Origem), Amauri Nazário Pinheiro, aquela manhã foi de choque na Fazenda Iruama, em Reserva Do Cabaçal. Ao sair para ver os animais, encontrou 12 já sem vida e outros oito deitados. “Nós encontramos esses animais mortos por causa do frio. Os que ainda estão vivos, estamos aplicando remédio para ver se levanta, mas é certo que desses oito, pelo menos quatro ou cinco devem morrer”, disse.
Segundo o criador, o prejuízo até agora registrado é de R$ 150 mil.
Ardendo em chamas
Situação completamente oposta viveram produtores rurais do assentamento Keno, no município de Cláudia, no norte de Mato Grosso. Ardendo em chamas, o incêndio sem controle destruiu propriedades e matou animais, deixando em pânico centenas de famílias que vivem da agricultura familiar. Pelas estimativas dos moradores, mais de 100 sítios foram prejudicados.
Desolado, o agricultor Cícero Corrêa caminhava por cima dos escombros do que sobrou da casa mobiliada, totalmente consumida pelo fogo avassalador, que não poupou nada dentro do pequeno sítio de cinco alqueires. Além da moradia, dois pomares frutíferos, cercas e uma grande área de pastagem foram destruídas. “O pouco que eu tinha o fogo levou. Agora, aos 66 anos de idade, não sei onde vou ficar e peço socorro”, diz.
Na propriedade da família Vieira, o fogo também causou muitos estragos. Além da plantação e equipamentos, vários animais perderam a vida, entre elas quatro vacas. “Não tem mais nada. Ainda conseguimos salvar uma vaca, que trouxemos arrastada, que estava parindo um bezerro, e agora não temos trato para dar para ela”, relata a produtora Maria Borba Vieira.
De acordo com o filho de Maria, Aldo Vieira, eles terão que começar do zero. “A gente faz esse apelo: pedimos aos governantes que nos ajudem, porque agora não temos nem para a sobrevivência, porque não temos como comprar mais nada, nem trato para o gado”, lamenta.
Espalhados por todo o estado, os incêndios assustaram muitos pecuaristas, como é o caso do rodamoinho de fogo registrado em São José do Xingú. Na semana do dia 15 de setembro, cinco propriedades foram atingidas pelas chamas, que avançam para áreas de reserva ambiental.
A propriedade do pecuarista Carlos Eduardo Souto foi uma das mais atingidas pelo fogo, tanto que uma ponte de dez metros e mais de 1.500 dos 3 mil hectares de pastagens foram consumidos pelas chamas. “O incêndio começou em um maquinário de uma fazenda vizinha e, de repente, por causa do vento, já pulou para a minha e causou um prejuízo incalculável”, afirmou o produtor.
Com muito esforço, o produtor abriu as cercas antes das labaredas tomar conta e conseguiu livrar o rebanho de 4 mil cabeças do fogo avassalador. Na propriedade, ele trabalha com o sistema de cria e muitas vacas estão no ciclo de reprodução e a preocupação é que possam ser perdidos bezerros por causa dos transtornos e a falta de alimento. “Algumas estavam parindo, podem abortar, também vou ter que alugar pastos para garantir o alimento pois o fogo destruiu tudo.”
A esperança por chuva
O mês de setembro vai acabando com a esperança de que outubro traga chuva e diminua o sofrimento de quem foi atingido pela fúria da natureza em Mato Grosso. Segundo a meteorologia, em Mato Grosso, a chuva será mais intensa apenas nas áreas mais próximas com a Bolívia e Rondônia. Na maior parte do Estado, não há previsão de chuva para instalação nesta semana.
A partir do dia 7 de outubro, as pancadas de chuva retornam ao Sudeste e Centro-Oeste. Por enquanto, até o dia 12 de outubro, a precipitação acontecerá na forma de pancadas, algo que vai aumentar lentamente a umidade do solo na maior parte das áreas produtoras.