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MELHORAMENTO GENÉTICO

Dieta de alta energia aumenta produção de embriões bovinos em mais de 20%

Pesquisa da Embrapa mostra que plano nutricional intensivo em novilhas Nelore eleva a produção de embriões, antecipa a puberdade e amplia o retorno econômico

Por Cássia Carolina
02 de outubro de 2025 às 17h48
Dieta de alta energia aumenta produção de embriões bovinos em mais de 20%

FOTO: Divulgação l Carlos Frederico Martins

Um estudo da Embrapa Cerrados (DF) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) comprovou que o manejo nutricional pode ser decisivo para aumentar a eficiência reprodutiva dos rebanhos. Segundo a pesquisa, planos alimentares de alta densidade energética em curto prazo elevaram em 21% a produção de embriões bovinos in vitro em novilhas pré-púberes da raça Nelore, garantindo ainda retorno financeiro até 2,8 vezes maior em comparação a dietas convencionais.

Mais energia, mais embriões

Os testes mostraram que novilhas submetidas ao regime intensivo apresentaram maior produção de ovócitos e embriões, além de alcançarem precocemente peso ideal para reprodução. Os animais também tiveram maior deposição de gordura na carcaça, fator que antecipa a puberdade e melhora a qualidade embrionária.

Segundo o pesquisador Carlos Frederico Martins, da Embrapa Cerrados, “quanto mais jovens as novilhas ficarem prenhas e deixarem descendentes, mais compensador é para o sistema financeiramente”. A primeira prenhez aos 14 meses, em vez dos tradicionais 24 meses, reduz custos de produção e acelera os programas de melhoramento genético, encurtando o intervalo entre gerações.

Detalhes do experimento

O estudo avaliou 34 novilhas Nelore, divididas em dois grupos:

  • Dieta convencional (PN1): ganho médio de 400 g/dia na seca e 700 g/dia na chuva. 
  • Dieta de alta energia (PN2): ganho de até 1 kg/dia, com silagem de milho e maior suplementação concentrada. 

Os resultados impressionam:

  • 49% a mais de ovócitos recuperados; 
  • 42% mais ovócitos viáveis; 
  • 21% a mais de embriões produzidos; 
  • Peso médio de 321 kg aos 12 meses, contra 309 kg no grupo convencional. 

Com isso, as novilhas submetidas ao PN2 atingiram o peso ideal para reprodução entre 12 e 14 meses, encurtando o ciclo produtivo.

Retorno econômico

Apesar de mais cara, a dieta energética garantiu margens líquidas até 2,8 vezes maiores na produção de embriões, independentemente da técnica utilizada (a fresco, vitrificados ou criopreservados). A receita média foi 77% superior em relação ao grupo convencional, confirmando que o investimento é rapidamente compensado.

De acordo com a pesquisadora Isabel Ferreira, responsável pela análise financeira, “mesmo com maior custo operacional, o plano de alta energia obteve maiores receita, margem bruta e lucro operacional, provando ser uma estratégia viável para sistemas comerciais”.

Embriões de bezerras Nelore produzidos produzidos in vitro com Melatonina

Embriões de bezerras Nelore produzidos in vitro com Melatonina. FOTO: Carlos Frederico Martins

Melatonina como aliada

O estudo também avaliou o uso da melatonina, hormônio natural com ação antioxidante, em ovócitos e embriões cultivados in vitro. Os resultados mostraram aumento de até 13% na produção de embriões e qualidade próxima à obtida com vacas adultas.

Essa associação entre nutrição de alta energia e uso da melatonina pode se tornar um novo caminho para acelerar a reprodução em novilhas, encurtar o intervalo entre gerações e ampliar a base genética dos rebanhos.

Para o produtor, a pesquisa reforça que investir em embriões bovinos de novilhas jovens, com suporte nutricional adequado, pode garantir ganhos reprodutivos e financeiros consistentes. Além de aumentar a taxa de prenhez e reduzir a idade ao primeiro parto, a estratégia traz impacto direto na rentabilidade da fazenda e na competitividade do rebanho.