O Crescimento do Gado Europeu na Pecuária Brasileira

Descubra as oportunidades e desafios do gado europeu na pecuária brasileira e seu impacto na produção de carne de alta qualidade.

Por Carla Silva

O mercado pecuário brasileiro tem testemunhado uma crescente valorização das raças europeias de bovinos, conhecidas por sua superioridade no marmoreio e maciez da carne. Essas características fazem com que a carne de origem taurina seja amplamente apreciada tanto no mercado nacional quanto internacional. Para entender melhor esse cenário e as perspectivas para o setor, o programa “Além do Lance” recebeu Fernando Furtado, médico veterinário, mestre em produção animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e diretor técnico da Crio Central Genética Bovina.

A Importância do Gado Europeu no Cenário Global

No contexto mundial, as raças europeias dominam a produção de carne bovina. Oito dos dez maiores produtores globais — como Estados Unidos, União Europeia, Argentina e Austrália — utilizam majoritariamente gado europeu. Em contrapartida, Brasil e Índia se destacam pelo uso predominante do gado zebuíno. No Brasil, aproximadamente 80% do rebanho é composto por zebus, tornando a carne brasileira majoritariamente oriunda dessas raças.

Apesar de representarem uma parcela menor do rebanho nacional, as raças europeias têm encontrado diversas oportunidades dentro da pecuária brasileira. Fernando Furtado destaca que, embora mais concentradas na região Sul, sua genética é amplamente utilizada em programas de cruzamento industrial. A combinação de matrizes zebuínas com reprodutores taurinos tem permitido a produção de animais mais produtivos e adaptados às condições do país.

O especialista também aponta que o uso dessas raças tem impulsionado mercados estratégicos, como a exportação de gado em pé. Em 2024, essa modalidade alcançou cerca de 850 mil animais, com grande participação do chamado “bezerro preto”, fruto do cruzamento entre Angus e Nelore.

Foto: Associação Brasileira de Hereford e Braford

Carne Premium e Expansão de Mercado

Além da produtividade, as raças europeias têm ganhado relevância na produção de carne premium, uma tendência crescente entre os mercados importadores. Estima-se que entre 15% e 20% dos bovinos abatidos no Brasil sejam de raças europeias, número que tende a aumentar com a abertura de novos mercados exigentes por carne de alta qualidade. Atualmente, o Brasil exporta para cerca de 150 países, o que representa uma grande oportunidade para o setor.

Adaptação e Desafios

Apesar das vantagens produtivas, o gado europeu enfrenta desafios em sua adaptação ao clima tropical brasileiro. Essas raças não foram selecionadas para ambientes quentes e úmidos, tornando-se mais suscetíveis a problemas como estresse térmico e parasitas. Por isso, a criação desses animais é mais viável em regiões de clima temperado, como o Sul do país. No entanto, quando utilizados em cruzamentos, os produtos resultantes, como o F1 Angus x Nelore, apresentam maior resistência e melhor desempenho em diversas regiões pecuárias do Brasil.

Projeções para o Futuro

O Brasil possui aproximadamente 20 milhões de bovinos no Sul, onde as raças europeias são predominantes. Quando somados os animais resultantes de cruzamento e inseminação artificial, a participação desse gado no abate nacional pode alcançar até 20%. Mesmo sem dados oficiais exatos, as estimativas indicam que o uso de genética taurina continuará crescendo, impulsionado por melhorias em produtividade e novas exigências do mercado consumidor.

O gado europeu tem conquistado espaço no Brasil, especialmente por meio de cruzamentos estratégicos que potencializam a produtividade e agregam valor à carne nacional. Com a busca por mercados mais exigentes e a necessidade de maior eficiência produtiva, a pecuária brasileira tem cada vez mais apostado nessas raças como um diferencial competitivo. No próximo episódio do “Além do Lance”, o tema da inseminação artificial será aprofundado, abordando como essa tecnologia pode contribuir ainda mais para a evolução do setor pecuário.

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