SABEDORIA DO CAMPO

Olho com a porteira: a lição de Zé Humberto sobre seleção

Veterano da pecuária, Zé Humberto critica a dependência cega dos índices e valoriza o olhar treinado de quem vive o campo

Por Cássia Carolina

Referência nacional na seleção de Nelore, José Humberto Vilela Martins, o Zé Humberto, participou de um episódio especial do LanceCast, podcast do Lance Rural exibido pelo Canal do Criador. Aos 80 anos e com mais de seis décadas dedicadas ao melhoramento do zebu, o produtor voltou a defender um tema que pauta sua trajetória: o cuidado com o excesso de confiança nos números.

Olho com a porteira a lição de Zé Humberto sobre seleção

Foto: Reprodução l LanceCast

“Vai destruindo o rebanho”

Durante a conversa, o criador da Fazenda Camparino, no Pantanal mato-grossense, foi direto ao ponto: “O cara que foca só em número, e não olha as outras coisas, vai destruindo o rebanho dele. E depois, voltar no arreio é difícil.”

Para ele, priorizar exclusivamente os índices genéticos compromete a harmonia e a produtividade do rebanho. Sem considerar aspectos como funcionalidade, adaptabilidade e conformação, a seleção pode criar gado tecnicamente bem avaliado, mas distante da realidade do campo, menos rústico, menos produtivo e com maior exigência de manejo.

Zé Humberto reconhece o avanço da genética e das avaliações, mas reforça o valor do que ele chama de “olho com a porteira”. “O olho com a porteira é uma ferramenta boa demais!”, afirma.

Esse olhar, treinado com anos de experiência, é, segundo ele, insubstituível para quem vive a pecuária no dia a dia. Foi com essa sensibilidade que ele transformou um lote de novilhas comuns em grandes matrizes da raça Nelore.

Nem contra, nem cego: o caminho do equilíbrio

Zé Humberto não é contra os números. Pelo contrário, reconhece que eles podem ser aliados importantes, especialmente para quem está começando: “O cara que não entende bulhufas de gado, se ele focar só na avaliação genética, ele erra menos.”

A crítica dele está na dependência cega dos índices, sem levar em conta o comportamento, a estrutura e a rusticidade dos animais. Para ele, pecuária é emoção, mas exige conhecimento, sensibilidade e consistência.

Uma lição de quem vive o gado

Zé Humberto faz questão de participar da Expozebu todos os anos, onde compartilha sua visão com criadores de todo o país. Mineiro de origem, mas com a vida marcada pelas conquistas no Centro-Oeste, ele é apaixonado pela criação não só do Nelore, mas também de outras raças como o Gir Leiteiro, Sindi, porcos, cavalos e aves.

Sua filosofia é clara: a pecuária precisa de tecnologia, sim, mas com os pés no chão, e os olhos bem abertos para o campo.

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