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SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA

Pecuária no Pampa aposta em ciência para reduzir metano na pecuária

Projetos da Embrapa no Rio Grande do Sul unem genética, manejo e tecnologia para diminuir emissões e valorizar a carne brasileira

Por Cássia Carolina
27 de agosto de 2025 às 10h58
Pecuária no Pampa aposta em ciência para reduzir metano na pecuária

FOTO: Divulgação l Felipe Rosa

No Pampa gaúcho, ciência e produtores se unem para transformar a pecuária em aliada no combate às mudanças climáticas. A Embrapa Pecuária Sul (RS) desenvolve metodologias inéditas para mensurar e selecionar animais que emitem menos metano na pecuária, ao mesmo tempo em que convertem o alimento consumido em maior ganho de peso.

As chamadas Provas de Emissões de Gases (PEG) já testaram mais de 150 reprodutores de raças como Angus, Charolês, Hereford, Braford e Brangus da própria Embrapa. O objetivo é identificar animais mais eficientes na relação entre consumo, ganho de peso e emissão de gases, criando um banco de dados robusto para programas de melhoramento genético.

Segundo a pesquisadora Cristina Genro, da Embrapa Pecuária Sul, a estratégia pode gerar impacto em escala nacional:

“Se pensarmos nessa característica espalhada por milhões de animais, a redução da emissão de metano pode ser extremamente significativa”, destaca.

Brasil e o compromisso com o Pacto do Metano

O trabalho ganha relevância dentro do compromisso assumido pelo Brasil no Pacto Global do Metano, firmado na COP26, em 2021. O país se comprometeu a reduzir emissões desse gás, considerado estratégico no combate ao aquecimento global.

Nas PEGs, os animais são avaliados em ambiente controlado, logo após a Prova de Eficiência Alimentar, recebendo dietas padronizadas. Com base nos resultados, os reprodutores são classificados em grupos Elite, Superior e Comercial, facilitando o direcionamento da genética.

Sustentabilidade no manejo de pastagem

FOTO: Divulgação l Felipe Rosa

Tecnologia de ponta para monitorar emissões

Para ampliar os resultados, a Embrapa Pecuária Sul adquiriu o GreenFeed, equipamento automático que mede continuamente o metano expelido por cada animal. Com ele, será possível monitorar até 100 bovinos simultaneamente, acelerando a consolidação dos índices genéticos.

Esse avanço faz parte de um projeto aprovado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e pela Fapergs, que transformou a unidade da Embrapa em centro de referência em gases de efeito estufa (GEE) no Rio Grande do Sul.

Manejo de pastagens também faz diferença

Além do melhoramento genético, o manejo adequado das pastagens é outro fator chave. Estudos no bioma Pampa mostram que animais terminados em integração lavoura-pecuária, em altura ideal de pastejo, emitiram 30% menos metano que os índices de referência do IPCC.

A recomendação da Embrapa é medir a altura das pastagens regularmente e ajustar a lotação de animais por hectare. Quando bem manejado, o pasto acumula mais carbono no solo e reduz a emissão por animal, conciliando produção e sustentabilidade.

Tecnologia de ponta para monitorar emissões de metano

Sustentabilidade no manejo de pastagem

Perspectiva de mercado

As pesquisas também validam conceitos já lançados pela Embrapa, como Carne Carbono Neutro (CCN), Carne Baixo Carbono (CBC) e Carbono Nativo (CN), reforçando a valorização da carne produzida no Sul do Brasil.

De acordo com Cristina Genro, o potencial de mitigação pode chegar a 38% com melhoramento genético, 20% com ajustes de dieta e até 35% com manejo adequado de pastagens.

“Tudo isso pode oferecer uma perspectiva de valorização da carne gaúcha em um mercado cada vez mais exigente por qualidade e sustentabilidade”, afirma.