Casal de SC implanta sistema que permite algo raro na produção de leite: tirar férias
Um jovem casal de produtores de leite de Xanxerê, em Santa Catarina, dá exemplo de gestão da propriedade e consegue algo difícil de imaginar na atividade: tirar férias todo ano. E isso sem afetar a produtividade do rebanho, um plantel de 43 vacas da raça jersey, com produção anual de 230 mil litros de leite – a média é de 5,3 mil litros por animal ao ano, mas a meta é chegar a 6 mil.
O modelo de administração implantado na propriedade de 12 hectares onde vivem a médica-veterinária Celis Andressa Gaspareto e o marido, André Souza Rego, foi inspirado em uma fazenda voltada à produção leiteira na Austrália, onde o casal se conheceu.
Celis conta que, após se formar, decidiu fazer um intercâmbio no país da Oceania para obter mais conhecimento e assim tocar a propriedade que herdou da família, mantida arrendada para o plantio de soja.
- SC investe R$ 7,2 mi para incentivar produção de leite e carne a pasto
- Leite: preço recua quase 10% em 2021 e aperta margem do produtor
“Eu tinha que achar uma atividade que fosse viável para uma pequena propriedade, e que me trouxesse também qualidade de vida. Na Austrália, ficamos impressionados com o jeito como produzem leite”, lembra a veterinária.
O fato mais marcante do sistema produtivo naquele país, segundo ela, é o uso de estação de monta – até duas vezes ao ano, em algumas fazendas – para sincronizar o rebanho e, assim, facilitar o manejo ao longo de todo o ano.
A estação de monta, que permite que as vacas fiquem prenhes na mesma época, facilita o trabalho e evita que eles precisem de empregados para dar conta de toda a lida, afirma André. “Na propriedade, a gente dá a chance para a vaca emprenhar quatro vezes, em oito semanas de estação de monta. Após isso, a gente encerra as inseminações e depois é só confirmação”, conta.
O produtor acrescenta que é proporcionado muito conforto às fêmeas, que recebem pastagens de boa qualidade, sombra e água nos piquetes, por meio do chamado sistema silvipastoril.
Uma das práticas implantadas pelo casal foi o ajuste da produção de leite ao ciclo de crescimento da pastagem. Eles trabalham com sete hectares de pastagem, divididos em piquetes para pastejo rotacionado, todos irrigados por aspersão e sombreados por eucaliptos, diz Celis. “Para complementação de volumoso, utilizamos feno ou pré-secado e silagem. Temos também cinco hectares arrendados para produção desse volumoso”.
A parição na propriedade ocorre em abril. “É a época de transição para pastagem aqui no Sul, que vem saindo de uma pastagem de verão, entrando para a pastagem de inverno. As vacas vão entrar em pico de lactação no capim mais vigoroso, com alto teor de nutrientes, proporcionando assim uma maior quantidade de leite e maior volume, já que todo o gado vai estar nessa época toda em lactação”, afirma André.
Evolução constante da propriedade
As orientações dos técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) foram importantes para a adoção das melhorias necessárias na gestão da propriedade, após a vivência do casal na fazenda australiana.
“A gente procurou, desde o início, implantar uma planilha de gestão da propriedade e isso tem facilitado muito as tomadas de decisões. Procuramos sempre fazer ajustes nas instalações para melhorar a questão de mão de obra, de sombra e água nos piquetes, para facilitar o fluxo dos animais e para que eles tenham conforto quando estão no pasto”, enumera o extensionista da Epagri Edy Alexandre Bortuluzzi.
Ele conta que a sala de ordenha da propriedade tem um formato diferenciado. “A velocidade de ordenha é muito grande, para 50 animais. Praticamente em uma hora tem todo o trabalho pronto. [O casal] Recolhe os animais, ordenha e já solta para o pasto em questão de uma hora”.
Dulcinéia Censi, extensionista social da Epagri, acrescenta que o trabalho realizado na propriedade de Xanxerê também incluiu o projeto de moradia, já que a casa que havia ali se degradou com o passar do tempo, e de meio ambiente, por intermédio do programa Corredores Ecológicos. “Foi melhorada a questão da água, trabalhando-se o isolamento das áreas de preservação permanente para que eles tivessem uma boa qualidade de água aqui”, afirma a extensionista.
A propriedade rural de Celis e André está em constante evolução, sempre com foco em tecnologia, maior produtividade, saúde animal e busca de preços mais competitivos para o leite. A veterinária conta que a família conseguiu descansar no último mês, e até os animais puderam curtir suas merecidas férias.
“Em 1º de fevereiro, a gente iniciou a secagem das vacas e, na primeira semana de março, estavam 100% secas. Elas ficaram ali pastando, todas em férias, e a gente também conseguiu ficar até 15 dias sem a atividade da ordenha no nosso dia a dia”, lembra.
Segundo Celis, neste ano o casal resolveu não sair da propriedade por causa da Covid-19, permanecendo em casa com os dois filhos, Valentin e Martin. Ela acredita que a forma como conduz a produção de leite possa inspirar outros pequenos produtores a se manterem na atividade.
“A gente pode ir visitar o vizinho, pode ir conhecer coisas novas e agregar, de acordo com a sua realidade, com a sua estrutura. Tem lugar para todo mundo na atividade leiteira aqui no Brasil. Nós somos mais de 4 milhões de pequenos produtores, com muito amor pela atividade e que querem se manter nela”, afirma.
VEJA TAMBÉM
Carne suína: exportações atingem 34,593 mil toneladas em junho
As exportações de carne suína “in natura” do Brasil renderam US$ 83,292 milhões em junho (8 dias úteis), com média diária de US$ 10,411 milhões. –
Leia MaisMilho: comercialização da safra 2021/22 em MT atinge 61,01%
Segundo o Imea, as vendas da safra de milho 2021/22 atingiram 61,01% da produção esperada, avanço de 3,14 p.p. em relação ao relatório anterior, entretanto, –
Leia MaisMilho: Anec projeta embarques de 1,793 milhão de toneladas em junho
Dados divulgados nesta semana pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) projetam que o Brasil deverá exportar 1,793 milhão de toneladas de milho em –
Leia MaisMilho: comercialização da safrinha 2022 atinge 30,8% no Brasil
A comercialização da safrinha 2022 de milho no Brasil atinge 30,8% da produção prevista de 83,253 milhões de toneladas, segundo levantamento de Safras & Mercado. –
Leia MaisOvos: após quase um mês de estabilidade, preços registram alta
Depois de quase um mês praticamente estáveis, os preços dos ovos registraram leve aumento, refletindo a maior demanda interna neste início de junho, conforme apontam –
Leia MaisBRF inaugura fábrica na Arábia Saudita
A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, inaugurou sua nova fábrica em Dammam, na Arábia Saudita. A unidade foi adquirida em janeiro –
Leia MaisCarnes: Abiec promove carne bovina brasileira na Coreia do Sul
A Associação Brasileira das indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) participa da comitiva do Ministério da Agricultura e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e –
Leia MaisSão Paulo chega a 400 municípios atendidos pelo programa +Leite Saudável
Desde que foi instituído, em 2015, o estado de São Paulo já soma 400 municípios envolvidos com ações do programa +Leite Saudável, do Ministério da –
Leia MaisSuínos: preços do vivo e da carne tem recuperação
Os preços do suíno vivo e da carne reagiram neste início de junho, conforme apontam dados do Cepea. O aquecimento da demanda pela carne, como –
Leia MaisBoi: em um ano, preço do bezerro recua 25,2%
De acordo com a análise de pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), os preços dos bezerros estão em movimento de queda –
Leia Mais