Couro sustentável: ONG viabiliza renda a mulheres no interior de SP
Na segunda parte da reportagem especial sobre a sustentabilidade na cadeia do couro, vamos conhecer um projeto social em Potim, no interior de São Paulo, onde mulheres são capacitadas para trabalhar com a cadeia produtiva.
“O consumidor busca produtos mais sustentáveis. Eles buscam fazer a diferença em toda questão de aquecimento global, poluição do ar, poluição das águas e isso é cada vez mais presente”, explica Kim Sena, gerente de Sustentabilidade na JBS Couros.
Atualmente, cerca de 98% da produção da empresa vai para o exterior. Mas, com a finalidade de ampliar o mercado interno, a companhia começou a vender também para pequenos e médios fabricantes no país. Além disso, a empresa está de olho em seu papel social.
“A gente queria democratizar esse material também no mercado nacional, tornar ele acessível, com a mesma qualidade e requerimento tanto de performances do material e resistência de sustentabilidade. Para isso, criou-se o Leather Labs, que é um site onde você consegue comprar um couro, seja para estofar seu sofá que está velho e você quer renovar, ou para trabalhar junto com seu arquiteto para fazer qualquer coisa. A ideia é democratizar, tornar um couro nacional de padrão de qualidade de exportação vendido online para quem quiser comprar no Brasil”, disse.
Kim classifica a sustentabilidade também como responsabilidade social. Por isso, comunidades do entorno da empresa fazem a diferença no processo de fabricação do couro. “A gente procurou uma ONG que faz um trabalho com mulheres em situação de vulnerabilidade social. São geralmente mães solteiras, responsáveis pela principal fonte de renda da casa”, explicou.
Essas mulheres, segundo ela, passam por um processo de capacitação via Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e contam com a ajuda de uma especialista em trabalho com couro. “A gente forneceu as máquinas para elas trabalharem e estamos vendendo os produtos delas no nosso site no Leather Labs “.
A ONG Orienta Vida surgiu em 1999, a partir da iniciativa de Celeste Chade. Ela nos conta que a mãe ensinava mulheres carentes da região a bordar, porém, essas mulheres não tinham para quem vender os produtos, então Celeste começou a criar produtos personalizados para que essas mulheres pudessem vender. Porém, ela não imaginava como a ONG iria se desenvolver.
“De 2004 pra cá, a gente só foi crescendo. Começamos com quatro mulheres e, com pouco tempo, a gente já tinha 50 mulheres produzindo. Temos histórias de mulheres que chegaram aqui sem saber fazer nada e aprenderam tudo, produzem, ganham bem e mudaram a história de vida da família”, disse Celeste.
Esse é o caso da Adriana, que diz ter entrado para a ONG em um dos piores momentos da própria vida. “Hoje eu conquistei minhas máquinas. Acordo todos os dias às 5h da manhã e não tenho hora para dormir, pois estou conquistando e vou conquistar todos meus objetivos”, disse.
A assistente social e relações públicas Ana Luiza explica que, desde que a ONG foi fundada, o objetivo é capacitar, empoderar e inserir as mulheres no mercado de trabalho com qualidade. “A gente consegue trazer uma satisfação para essas mulheres de verem o trabalho final, com qualidade, nos mais diversos lugares”.
“A gente acha que esse projeto com o couro vai ser um divisor de águas na nossa história”, completou Celeste.
Sobre as perspectivas futuras, o gerente de sustentabilidade da JBS Couros afirma que a ciência deve pautar e definir verdadeiras métricas de sustentabilidade. “Muita gente se diz sustentável, mas o termo vem ganhando caráter científico. Então, é uma discussão sobre quem está falando mais alto sobre respeitar as medições com base em métodos e cálculos científicos. Nós temos buscado, por meio desses cálculos, a diminuição da geração de resíduos para a cadeia, a diminuição do uso de recursos naturais e para que a gente consiga medir qual é o impacto real”, disse Kim Sena.
Ainda segundo ela, muitos preconceitos estão caindo por terra. “Muitas das crenças que as pessoas tinham, como o próprio caso do que é chamado couro ecológico e que, na verdade, é plástico. Então, a gente tem conseguido, através de mensurações, desmistificar muita coisa e mostrar que o couro na verdade é o aproveitamento de um subproduto da cadeia feito de forma consciente e é, sim, um material sustentável, um material que vai durar muito mais anos e, no final das contas, vai gerar um impacto menor pro planeta”.
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