Crimes no campo contam com a participação de funcionários e parentes
O aumento de furtos e roubos de animais no campo tem preocupado produtores de todo o país. Em Santa Catarina e no Paraná, por exemplo, foram criados programas de patrulhamento rural, com a ajuda de GPS, para ajudar a polícia a identificar as propriedades e prestar socorro. Mas, de acordo com a polícia, muitas vezes a dica para os criminosos vem de onde menos se espera: dos próprios funcionários e até parentes das vítimas
Em janeiro, por exemplo, policiais do 43º Batalhão de Polícia Militar de Goiás receberam informações sobre um possível furto de gado seguido de abate, em uma propriedade rural de Firminópolis (GO). Uma viatura se deslocou até o local e conversou com uma testemunha. Ela teria contado aos policiais quem era um dos possíveis envolvidos no crime e identificado o modelo do carro utilizado para transportar o animal.
- Suspeito invade fazenda, furta trator e foge atropelando a porteira
- Casos de furto de gado aumentam em SC: ‘Sentimento de tristeza e medo’
Esse homem foi localizado e abordado pelos agentes da PM e disse ter abatido o bovino a pedido do gerente da fazenda, que vendeu a carne a um açougue do município.Na sequência, os militares chegaram ao gerente da propriedade, que confessou que aquele tinha sido o quarto animal furtado da fazenda por ele e que todos os bovinos tinham sido vendidos ao mesmo estabelecimento comercial. Só a última venda tinha lhe rendido R$ 2,5 mil.
No mesmo mês, um suspeito, de 25 anos, foi denunciado pelos irmãos por furto de gado. De acordo a Polícia Civil de Minas Gerais, o investigado teria aproveitado que o pai, um idoso de 65 anos, estava doente, para subtrair mais de 80 animais da fazenda.
Segundo o vice-presidente regional da Federação de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), Ricardo Lunardi, a falta de critérios na hora de contratar pode se virar, com muita facilidade, contra os produtores rurais. “Essa falta de cuidado na contratação de pessoal às vezes gera esse problema de você trazer para dentro das propriedades alguém que possa a vir aí a contribuir para que haja um problema de furto e esses delitos que acontecem na área rural”, disse.
“Muitas vezes ele (produtor) contrata e não verifica e está colocando dentro da sua propriedade um ladrão, um estuprador ou um assassino”, complementa o assessor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Gilmar Ogawa.
Para o presidente do Sindicato Rural de Lages (SC), Márcio Pamplona, os bandidos, muitas vezes, procuram as propriedades para ficar longe da polícia” Eles vão buscar o acobertamento dentro de uma propriedade rural, para estar longe do risco de serem encontrados pela polícia estando no interior”.
De acordo com a produtora Lígia Buso, que lidera um projeto de vigilância rural no norte do Paraná que tem virado referência na região, os bandidos normalmente estudam local antes de agir e a presença de estranhos ao redor da propriedade pode ser um sinal de alerta.
“Se a porteira está aberta, eles entram e rondam a propriedade, o curral e dão um passeio de dia, de noite. Eles aparecem de moto, entram e saem, e você ouve de longe. Então há uma tendência a fortalecer mais essas entradas para a gente evitar essas visitas indesejáveis. Não pode bobear não. Tem que ser esperto sim”, explicou.
Segundo ela, os casos mais comuns são os de furto de gado, independentemente do tamanho. “Fêmeas gordas, machos gordos, bezerros com quatro meses. Alguns animais são abatidos dentro da propriedade para pegar toda ou parte da carcaça. E maquinário também”, diz.
Moradora da zona rural há 42 anos, Lígia conta que a comunicação entre os produtores e as autoridades responsáveis pela vigilância é bem difícil por falta de estrutura. “Aqui, por exemplo, tenho internet, mas cabeada. Telefone não funciona”, comenta.
Roubos em alta
Na escuridão da noite, câmeras de segurança flagraram o ladrão de gado no curral de uma propriedade. Com o rosto coberto, ele verifica se não tem ninguém por perto e em menos de dois minutos deixa o local puxando o animal.
O produtor Mario Kauling, de Santa Catarina, é mais uma vítima do abigeato e, em menos de uma semana, teve prejuízo de R$ 10 mil.
Além do prejuízo financeiro, esse tipo de crime causa traumas emocionais. Em um caso, por exemplo, os bandidos mantiveram em cativeiro o proprietário da fazenda e funcionários por mais de 12 horas. “Seguram a família num cômodo e obrigam a família a ir no campo geralmente à noite, ou de madrugada, para pegar os animais, recolher e trazer e colaborar dessa forma com o crime. Então, eles vivem um certo estresse, um certo nervosismo em relação a isso”, disse Lígia.
No Brasil, não existe estatística oficial de abigeato. No entanto, em 2016, o Congresso tipificou o roubo ou furto de animais e a receptação e comercialização de carne de origem ilícita com pena de 2 a 5 anos de prisão.
A grande dificuldade de combater o abigeato é que as propriedades são extensas, longe das cidades. O contingente policial é pequeno e os recursos limitados, por isso que produtores se organizam para criar patrulhamento e o uso de GPS nas propriedades cadastradas, incluindo o nome de todos os moradores e uma placa colocada na porteira com localização exata por satélite.
“Essas informações de GPS são passadas não só para a Polícia Militar,mas também para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Corpo de Bombeiros e Saer, que é o Serviço Aéreo da Polícia Civil”, disse Lunardi.
VEJA TAMBÉM
Carne de frango: exportação de aves atinge 220,209 mil toneladas em novembro
As exportações de carne de aves e suas miudezas comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas do Brasil renderam US$ 458,643 milhões em novembro (12 dias úteis), –
Leia MaisCarne bovina: exportação atinge 98,389 mil toneladas em novembro
As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 520,641 milhões em novembro (12 dias úteis), com média diária de US$ –
Leia MaisValor do quilo do ovino vivo pago ao produtor tem aumento médio de 6% em 2022
O preço médio pelo quilo do ovino vivo pago ao produtor rural de Mato Grosso do Sul teve um aumento de 5,98% entre janeiro e –
Leia MaisOvos: preços se mantêm estáveis pela 4º semana consecutiva
Os preços médios dos ovos se mantiveram estáveis nas regiões acompanhadas pelo Cepea. Trata-se da quarta semana consecutiva que os valores se mantêm praticamente sem –
Leia MaisBoi: oferta cresce e preço cai
Os valores do boi gordo seguem em queda no mercado brasileiro e já operam nos menores patamares nominais desde novembro do ano passado, quando a –
Leia MaisFrango: média da parcial de novembro está inferior à do mês anterior
Os preços da maioria dos produtos avícolas estão subindo na grande parte das regiões acompanhadas pelo Cepea. Segundo pesquisadores do Centro de Pesquisas, os valores –
Leia MaisSuínos: preços apresentam movimentos distintos dentre as regiões
As diferentes condições de oferta de suíno vivo pronto para o abate dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea têm resultado em variações distintas nos preços –
Leia MaisTilápia: baixa oferta e maior demanda elevam valor pelo 3º mês seguido
As cotações da tilápia avançaram em outubro pelo terceiro mês consecutivo em todas as regiões acompanhadas pelo Cepea. O movimento de alta foi resultado da –
Leia MaisCarne bovina: Argentina retoma exportação para México após 20 anos
O Serviço Sanitário Mexicano (Senasica) autorizou 22 plantas de processamento da Argentina a exportar carne bovina para o México, após 20 anos de inatividade na –
Leia MaisCarne bovina: Sociedade Rural Argentina pede ao governo que normalize mercado impactado por seca
A Comissão de Carnes da Sociedade Rural Argentina solicitou mais uma vez ao governo nacional que normalizem o mercado de carne bovina, que é impactado –
Leia Mais