Embrapa usa fungo em pastagem para controlar carrapato
Uma abordagem inédita obteve sucesso no controle do carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus), importante parasita de bovinos de corte e de leite. Em vez de somente aplicar produtos sobre os animais, cientistas testaram formulações granulares secas com o fungo Metarhizium robertsii que também podem ser aplicadas sobre as pastagens. A abordagem inovadora foi feita por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) , da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da empresa norte-americana Jaronski Mycological Consulting.
Os experimentos foram bem-sucedidos no controle do aracnídeo, uma vez que 95% da população de carrapatos em um sistema de produção encontra-se no pasto e não nos animais. As fêmeas botam seus ovos no solo, dos quais eclodem as larvas que evoluem à idade adulta, quando finalmente saltam a fim parasitar os animais. É a primeira vez que essa estratégia é utilizada.
- Com alta dos grãos, triticale é alternativa para produção de forragens e ração animal
- Manejo permite aumentar lotação no pasto com sustentabilidade
Conforme destaca Éverton Kort Kamp Fernandes, pesquisador da UFG, o controle biológico por fungos enteropatogênicos é muito explorado na agricultura para o controle de artrópodes-praga e a estratégia do estudo foi aproveitar a ampla literatura e aplicar a técnica no controle do carrapato. Ele lembra que o agente de biocontrole não é uma toxina ou proteína capaz de causar a morte imediata do carrapato, mas um fungo, utilizado vivo para causar uma infecção letal no inseto.
“Isso cria um desafio para a aplicação, uma vez que o manejo de controle deve ser planejado de duas formas distintas e complementares: a aplicação do fungo diretamente no animal infestado ou na pastagem, ou em ambos, para o efetivo controle de todo o ciclo de vida do carrapato”, explica.
As aplicações reduziram significativamente o número de larvas de carrapatos sobre a pastagem durante estação mais úmida, atingindo pelo menos 64,8% de eficácia relativa, porcentagem expressiva e promissora levando em consideração o emprego de um inimigo natural. “A utilização dessas formulações, combinada a outras estratégias de controle, ajudará o produtor a obter animais menos infestados e a diminuir a pressão de resistência do carrapato aos acaricidas químicos, viabilizando a produção de leite e carne de qualidade com animais mais saudáveis e livres de infestações descontroladas”, comenta Alan Marciano, da UFRRJ.
De acordo com os experimentos, a aplicação direcionada à pastagem atinge mais efetivamente a população de carrapatos do que as realizadas em bovinos infestados, além de prevenir ou minimizar os níveis iniciais de infestação no gado.
O estudo também detectou persistência do fungo no solo e a colonização fúngica das raízes das gramíneas cultivadas nas pastagens. Isso garante resultados prolongados com redução da necessidade de novas aplicações. Os pesquisadores preveem que o fungo possa ser incorporado na manutenção e formação de pastagens, algo que dependerá de futuros estudos.
Desenvolvimento de forrageira
As formulações granulares de agentes microbianos estão ganhando atenção especial como tecnologia de baixo custo para uso como biopesticidas ou bioinoculantes na agricultura. Visando atingir as pragas de artrópodes que vivem no solo, pequenos grânulos levam propágulos de fungos a locais ocupados pelas pragas-alvo.
Por se tratar de uma nova formulação, nunca testada em condições naturais, foi necessário que os cientistas investigassem a persistência do fungo no solo e a colonização das raízes da forrageira Urochloa decumbens. Sabe-se que esse fungo, além de controlar pragas, pode também ser um forte aliado no desenvolvimento da planta, e essa variedade é bastante utilizada para alimentar o “gado a pasto” no Brasil.
O experimento ao ar livre revelou que, apesar do controle do carrapato e do envolvimento com a planta forrageira, houve um declínio significativo na persistência do fungo no solo ao longo do tempo. Esse fenômeno é esperado e influenciado por fatores intrínsecos ao microrganismo, edáficos, bióticos, culturais e climáticos.
“Variáveis climáticas desafiadoras ao microrganismo foram registradas durante o experimento, e observamos que as duas estações em que ocorreram as aplicações divergiram em termos de persistência e eficácia do fungo contra o carrapato. Essa informação é valiosa para futuros protocolos de aplicação”, relata Alan Marciano.
O cientista explica que altas temperaturas combinadas com alta incidência de chuva marcaram o período após a primeira aplicação, na qual foi registrada a melhor eficácia de controle do carrapato. Isso evidenciou que o período chuvoso foi benéfico ao fungo, pois propiciou uma umidade do solo adequada ao seu desenvolvimento, mesmo sob alta radiação solar.
Contudo, durante a segunda aplicação, com temperaturas mais amenas e com menores precipitações, a eficácia relativa do controle de carrapatos foi menor, apesar de a persistência fúngica ter sido menos afetada durante os sete dias iniciais após a aplicação.
Os pesquisadores explicam que a falta de chuva e o solo mais seco impediram a germinação de propágulos, esporulação e, consequentemente, afetaram o desempenho do fungo em se disseminar e causar a morte dos estágios não parasitários do carrapato (fêmeas em período de postura, ovos e larvas recém-eclodidas).
A equipe de pesquisa já trabalha em melhorias da formulação para mitigar os efeitos deletérios identificados no estudo. Os pesquisadores acreditam que o trabalho é capaz de gerar um futuro produto no mercado, útil tanto para a pecuária quanto para a agricultura. O analista da Embrapa Gabriel Mascarin enfatiza a necessidade de novos estudos visando a persistência prolongada do fungo após a aplicação, em uma gama de condições além da situação brasileira, para otimizar as concentrações de grânulos aplicadas ao solo com o objetivo de incrementar as atuais taxas de eficácia no controle de carrapatos.
VEJA TAMBÉM
Anunciada nova prorrogação na validade das Declarações de Aptidão do Pronaf
Nesta segunda-feira, 22, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF), anunciou uma nova prorrogação –
Leia MaisCarne bovina: média diária das exportações cresce 3,43% na 3ª semana de março
As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 406,9 milhões em março (15 dias úteis), com média diária de US$ –
Leia MaisMilho: Brasil exporta 292,95 mil toneladas na parcial de março
As exportações de milho do Brasil apresentaram receita de US$ 71,75 milhões em março (15 dias úteis), com média diária de US$ 4,78 milhões. A –
Leia MaisExportações de carne suína do Brasil estão no maior patamar dos últimos seis meses
As vendas de carne suína do Brasil seguem a todo vapor. Após registrar alta de 6,12% no primeiro bimestre, a demanda pelo produto brasileiro segue –
Leia MaisGripe aviária: governo da França inicia reintegração de granjas no sudoeste do país
O Ministério da Agricultura da França informou nesta segunda-feira, 22, que a redução dos casos de gripe aviária no país vai permitir uma reintegração das –
Leia MaisMilho: Conab lança edital para remover mais de 11,2 mil toneladas
Um novo leilão para contratar o serviço de remoção de milho está programado para a próxima segunda-feira, 29. A partir da operação, a Companhia Nacional –
Leia MaisDemanda aquecida mantém preço do milho em alta; indicador renova recorde
Os preços do milho seguem em alta, impulsionados pela demanda aquecida e pela restrição da oferta no spot nacional, conforme levantamento realizado na maior parte –
Leia MaisOvo: liquidez diminui, mas cotações seguem praticamente estáveis
Com o aumento das restrições das medidas de distanciamento social no combate ao covid-19 em muitas regiões do Brasil, reduziu ainda mais a muito nos –
Leia MaisColheita de verão do milho 2020/21 atinge 55% no Brasil, diz Safras & Mercado
No Brasil, a colheita do milho da safra de verão 2020/21 atingiu 55% da área estimada de 3,953 milhões de hectares na última sexta-feira, 19, –
Leia MaisPlantio da safrinha atinge 86,2% no Centro-Sul do Brasil
O plantio da segunda safra de milho 2021 no Centro-Sul do Brasil, popularmente conhecida por safrinha, atinge 86,2% da área estimada de 14,125 milhões de –
Leia Mais