Greve de produtores de leite persiste no oeste de Mato Grosso
Entrou na terceira semana a greve dos produtores de leite no oeste de Mato Grosso. Mais do que a insatisfação com o valor recebido, a manifestação amplia as discussões sobre um problema no setor: a diferença entre o preço pago pelo produto no campo e aquele que chega ao consumidor final
Nas propriedades que suspenderam a entrega, leite só para consumo próprio, fabricação de alguns derivados e doação, uma maneira de reforçar o protesto. “Nós queremos, apenas, que eles reconheçam o nosso material, o nosso produto e o nosso esforço. Queremos uma resposta, queremos reconhecimento do que produzimos para eles. Eu espero que essa greve acabe logo e que eles cheguem a um acordo, porque temos conta para pagar e precisa repor esse dinheiro”, disse a produtora rural Valdirene Santos Castilho.
No entanto, da porteira para fora, a situação está longe de um desfecho, como explica o presidente da Aplo, Luciano Rodrigues. “Hoje, os produtores de leite junto com a Aplo reúnem os líderes dos produtores da região oeste de Mato Grosso para discutir o preço do custo da produção de leite dentro das propriedades. Para que os produtores possam sobreviver no campo, a maioria que estava na reunião online decidiu manter a paralisação”.
Já o presidente do Sindilat-MT, Leomir Chaves, explica que foi feito um acordo em pagar o segundo preço do estado estabelecido pelo Imea. “Falando em percentuais, mesmo com essa redução que estamos tendo na região oeste, tivemos um aumento na área de 60% no preço do leite nessa região. Estamos tentando baixar o mínimo possível o leite, tanto que em outros anos havia baixa de leite no mês de outubro e o mês de novembro e, esse ano, a gente só foi ter baixa em janeiro pago em fevereiro, redução mínima, redução absurda e não vamos ter outra redução. A gente espera que o percentual de produtores associados à Aplo que não está entregando seu leite para a indústria, que venha entregar, porque precisamos ser sensíveis nesse momento e estamos tentando sobreviver à saúde e também financeiramente”, disse.
Com estoques cheios, os laticínios apontam a pandemia de Covid-19 e a importação de leite do Mercosul como principais fatores que impactam o mercado. “Falar que a indústria está ganhando dinheiro, verdadeiramente não está, nós estamos passando por uma situação complicada de mercado, sofrendo para comercializar a produção, devido essas paralisações e restrições no comércio. O Brasil precisa ser autossuficiente na produção láctea, nós compramos muito leite do Mercosul e essa política atrapalha a indústria brasileira, uma vez que o alto custo de produção são bem menores que o nosso e o produto entra mais barato no Brasil e a gente não consegue competir”, continua Chaves.
As cooperativas lácteas de outras regiões do estado também sentem os impactos da pandemia e dificuldades causadas pela importação do leite sul-americano. Milton Dalmolin, vice-presidente da Coopernova, falou sobre esse cenário. “No mês de dezembro, nós tínhamos um produto de R$ 23 o quilo, foi nos ofertados um produto argentino a R$ 19 o quilo. No final de janeiro, o mercado começou a enfraquecer e a diminuir os preços dos produtos que nós comercializamos. Chegamos no final de fevereiro no fundo do poço, chegamos a encerrar a produção de produtos queijos, manteiga, soro em pó e leite em pó, e captar recursos nas instituições financeiras para deixar esse produto guardado e vender no futuro próximo. Para se ter uma ideia, em 2009 a cooperativa tinha 2.000 produtores de leite, hoje temos em torno de 1.400”, disse.
Milton questiona ainda a diferença paga entre os preços que saem do campo e aqueles que chegam ao consumidor final. ” Percebemos que alguns varejistas colocam a margem até de 80%e é muito difícil a gente trabalhar dessa forma. Precisamos ter um equilíbrio e sentar em uma mesa de negociações, onde conseguimos equilibrar as coisas e trazer essa margem para o agricultor, porque ele é a galinha dos ovos de ouro. A preocupação maior é sempre fixar o homem no campo e também tentar remunerar o máximo esses produtores, para que eles tenham rentabilidade e para que os seus filhos continuem com a atividade no campo, então precisamos ter esse cuidado, de tentar negociar o nosso produto em um preço melhor para conseguir remunerar melhor nossos produtores”, falou.
VEJA TAMBÉM
Comissão debate registro geral da atividade pesqueira na terça
A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados promove audiência pública na terça-feira (23) sobre o registro geral da atividade –
Leia MaisAplicativo da Embrapa auxilia melhoramento genético de caprinos e ovinos
Uma nova ferramenta foi desenvolvida pela Embrapa Caprinos e Ovinos para facilitar o gerenciamento e o melhoramento genético de rebanhos. O aplicativo SGR Mobile para –
Leia MaisFórum Planeta Campo apresenta pecuária sustentável na prática
Iniciativas selecionadas de pecuária sustentável serão apresentadas por especialistas no Fórum Planeta Campo, que ocorrerá no dia 30 de novembro, em São Paulo, com transmissão –
Leia MaisCarnes: Ministros argentinos analisam alta de preços
Depois que o preço da carne começou a subir no início da semana, o Ministro da Economia, Martín Guzmán, se reuniu com seus pares de –
Leia MaisMinistério apreende 12 toneladas de produtos irregulares para alimentação animal
Auditores fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção de produtos de origem animal do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizaram nesta semana uma –
Leia MaisSuínos: liquidez aumenta, e valores sobem em todas as praças
Ao contrário do que geralmente se observa no período, as vendas de carne suína no mercado interno iniciaram novembro em ritmo lento, mas se aqueceram –
Leia MaisFrango: menor demanda na 2ª quinzena reforça pressão sobre cotações
A liquidez no mercado avícola, que já estava lenta desde o início de novembro, se enfraqueceu ainda mais com a entrada da segunda quinzena do –
Leia MaisABPA comemora aprovação da desoneração da folha na CCJ
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) considerou uma “vitória” a aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados do projeto –
Leia MaisJBS anuncia investimento de US$ 100 milhões em carne de laboratório
A JBS, maior companhia global de proteínas e líder em produção de alimentos, anunciou nesta quarta-feira (17) que fechou um acordo para aquisição de controle –
Leia MaisExportações de ovos atingem o maior volume em seis meses
Os embarques de ovos para consumo, tanto in natura quanto processados, tiveram forte aumento em outubro, atingindo o maior patamar dos últimos seis meses. Com –
Leia Mais