10 de maio de 2021 às 19h59

Leilões bovinos de outono superam expectativas e fecham com valores acima de 2020

A temporada de leilões de outono movimenta os negócios com bovinos no Sul do país, e 2021 já se consolida como um grande ano para a pecuária. O formato virtual, necessário em tempos de distanciamento social em função da pandemia da Covid-19, caiu no agrado de leiloeiras e criadores, trazendo mais segurança para a venda de animais.

A expectativa é de remates com preços em alta e demanda aquecida, influenciada pela redução do número de animais ofertados. Leiloeiros e pecuaristas comemoram as vendas e os recordes de preços registrados nos primeiros eventos da temporada.

Eduardo Eichenberg, diretor da Conexão Delta G, que reúne um grupo de pecuaristas focados no melhoramento genético de animais das raças hereford e braford, diz que o início da temporada de remates de outono já trouxe resultados positivos.

“Nós imaginávamos que os leilões de outono realizados pelos diferentes membros da Conexão Delta G teriam uma valorização semelhante, nesse patamar entre 35% e 40%, talvez um pouco mais, em relação ao ano passado. O que se viu foi um aumento bem mais significativo, acima do que nós tínhamos inicialmente projetado”, disse.

Eichenberg cita o Leilão CP Produção, realizado em 22 de abril e transmitido pelo Lance Rural, que ofertou animais comerciais das raças hereford e braford, novilhas prenhas, vacas prenhas, vacas com cria, animais de reposição, terneiros, novilhos e vacas de invernar. Segundo ele, ocorreu uma valorização média de 96% em relação a 2020.

“Praticamente dobramos a média. Em faturamento, passamos do dobro, já que o leilão ofertou um número maior de animais, o que nos deu uma segurança porque aumentamos a oferta e tivemos uma forte valorização com liquidez. O mercado está realmente demandando animais, e nossa atividade está bastante aquecida. Acredito que podemos ver uma valorização na casa de 60%, 70% no preço médio dos reprodutores e, praticamente, 80% no preço das fêmeas”, completou.  

Os criadores de devon também estão otimistas com a possibilidade de bons negócios com os leilões. Um lote de cinco terneiras da raça bateu recorde de preços de 2021 para a categoria, durante um remate realizado em Santa Catarina. A presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon e Bravon, Simone Bianchini, afirma que o mercado para a raça está muito aquecido.

“Os remates vão muito bem e há muitos investidores para a compra de animais com selo racial bem apurado. As fêmeas estão tendo um valor acima dos machos porque, provavelmente, vão ficar na propriedade para serem futuras mães. A associação comemora muito feliz um remate e, recentemente, na cidade de São José do Cerrito, em Santa Catarina, fêmeas foram vendidas pelo preço de R$ 23,95 o quilo vivo. É um recorde de preço, e uma novilha foi vendida a R$ 6.300”, contou.   

Sucesso garantido

O presidente do Sindicato Rural de Lavras do Sul (RS), Francisco Abascal, diz que o leilão da segunda etapa da feira de terneiros e terneiras, realizado no início de maio, comercializou mais de mil animais pelo Lance Rural e foi um sucesso. “Esse foi só o primeiro deles. Nós temos aqui um parque de remates, onde, só no mês de maio, vão acontecer sete eventos”, disse. 

O leiloeiro Arthur Freitas, da Coxilha Remates e Lote Rural, aposta no crescimento e na evolução dos leilões virtuais, por fornecer segurança e credibilidade à comercialização dos animais. “Nós trazemos um calendário com muitos eventos para 2021. O importante é que o gado é de qualidade, sempre com bons lotes, formando carga de tamanho expressivo para que os produtores possam se organizar, sentar na frente do computador, na internet, no aplicativo, fazer seus lances e realizar os melhores negócios”, disse ele.

Segundo Freitas, os remates virtuais vieram para ficar e os produtores já entenderam isso. “É uma ferramenta prática. Os animais estão na casa do produtor e só saem da fazenda no momento que forem vendidos e pagos. Isso nos dá muita segurança, credibilidade e baixo risco nos negócios. O ano de 2021, de fato, é o ano do boi e muito promissor. Um ano em que a pecuária está se valorizando muito e o céu é o limite. Apostem na pecuária que a moeda é a carne”, completou. 

O diretor da Trajano Silva remates, Marcelo Silva, afirma que as previsões feitas no início do ano para o setor de leilões estão se confirmando com resultados animadores na temporada de outono. “Estimamos trabalhar com valores, no mínimo, 20% acima dos praticados no ano passado. Isso está acontecendo não só no gado de corte, fortemente, com uma procura muito maior que a oferta e também a reposição. Na genética, eu também posso afirmar que vem acontecendo a mesma coisa, com muita gente procurando antecipar a compra de reprodutores, no sentido de investir um pouco menos, comprando os reprodutores mais novos e ter os animais disponíveis na temporada de primavera”.

Segundo ele, os animais sintéticos brangus e braford têm sido levados para o Centro-Oeste para a terminação. “Está sendo uma temporada de ouro, pois não tenho na lembrança como leiloeiro um momento como este na pecuária. Eu acredito que essa temporada de outono continuará como vem acontecendo: com os preços 30% maiores, em comparação à temporada do ano passado”, disse Marcelo Silva.

Novo momento que veio para ficar

Para o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do Rio Grande do Sul (Sindiler-RS), Ênio Dias dos Santos, a temporada é de preços em alta e de agilidade e liquidez nos negócios. Ele considera que as transmissões virtuais vieram para ficar.

“As transmissões dos leilões foram aceleradas por conta da pandemia, mas nos levaram a operar e qualificar cada vez mais os nossos eventos, ampliando nosso leque de comercialização e do número de leilões por todo o Rio Grande do Sul. Vivemos momentos especiais, consolidados porque temos história, tradição e qualidade”, afirmou Santos.          

O cenário deste ano é favorável à recuperação econômica dos pecuaristas. O mercado futuro aponta para a valorização nos próximos meses, segundo Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“O mercado do terneiro no Sul do Brasil, em especial, no estado do Rio Grande do Sul, tem atingido patamares extremamente elevados em termos de liquidez e de preços praticados. Nesta temporada, há uma escassez muito grande de terneiros em virtude da redução do rebanho. Nos últimos cinco anos, houve um desestímulo da cria e isso reduziu de forma muito significativa a oferta de animais”, disse o coordenador.

Por outro lado, Barcellos afirma que há uma intensificação na pecuária, com maior uso de tecnologia, por conta da baixa oferta de terras e da disputa com a agricultura. “Isso encurtou a idade de abate dos animais e faz com que o pecuarista busque a sua reposição, que anteriormente se dava por meio de bois magros, agora, por terneiros. Então, nós temos grande demanda, associada a um aumento das exportações de carne”.

Segundo ele, a oferta de terneiros tem sido um pouco restrita e, em especial, de alta qualidade. “Estão sendo ofertados animais com bom peso e padrão genético. Isso estimula a concorrência e puxa os preços para patamares mais elevados. Hoje vem sendo observado um patamar de ágio, para terneiro e boi gordo, em torno de 40%, o maior preço nos últimos 40 anos nessa relação de troca. É esperado que, ainda no mês de maio, tenhamos preços fortes, um pouco mais acomodados, em virtude da maior oferta que chega nesse período do ano”, disse Barcellos. 

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