Leite: como alinhar remuneração justa com custo compatível ao produtor?
No Brasil, o preço pago pelo litro de leite ao produtor hoje está acima se comparado a outros países. O país ocupa o terceiro lugar, com 37 centavos de dólar, só atrás dos Estados Unidos com 40 centavos e a Nova Zelândia, com 43 centavos de dólar.
Apesar do bom momento para o produtor em relação a preço, o problema está no custo de produção do leite, o pior dos últimos 10 anos. Com isso, o consumidor, último elo da cadeia, sente o reflexo.
- Leite: preço pago ao produtor sobe pelo terceiro mês seguido, aponta Scot
- Leite: com o maior custo de produção dos últimos 10 anos, como garantir lucro?
“Em três meses, tivemos uma alta de mais ou menos 25% no preço do leite, no qual a gente tenta não repassar todo esse aumento porque fica muito fora da curva. A gente economiza um pouco na nossa margem”, afirma o gerente de supermercado Leandro Damasceno.
Em um supermercado de São Paulo (SP), o litro de leite está custando entre R$ 3,29 e R$ 4,99, dependendo da marca. Se por um lado o consumidor final sentiu no bolso a alta do preço nos últimos meses, na outra ponta da cadeia, o pecuarista sofre com a variação de valor pago pelo laticínio que, muitas vezes, quase não cobre o custo de produção.
“No passado, a gente estava vendendo leite a R$ 1,50/R$ 1,60, mas a gente estava pagando na saca de soja até R$ 60 reais e R$ 30 no saco de milho. Hoje a soja está R$ 150 e o milho a R$ 90. Enquanto isso, o leite só subiu 60 centavos”, relata o pecuarista Dinei Marcos Faria.
Outro problema para o setor leiteiro é a volatilidade do preço. Em janeiro de 2018, por exemplo, o litro de leite em Goiás valia R$ 1,41. Em setembro de 2020, o valor chegou a R$ 2,6, aumento de quase 90%. Já nos últimos oito meses, o valor caiu para R$ 2,07, redução de 22%. Diante dessa montanha russa do mercado, o pecuarista precisa fazer malabarismo para fechar no azul.
“Se o produtor consegue produzir algum tipo de alimento na sua propriedade, consegue abaixar o custo. No entanto, se depender de comprar insumos de fora da propriedade, você fica no prejuízo, não tem como remunerar”, destaca o produtor Joel Dalcin.
Outra dificuldade do pecuarista é vender o produto às cegas. Isso porque o laticínio só determina o valor que será pago após a entrega.
“O grande chamamento é para a indústria do leite, para que ela passe a praticar o sistema que utilizado no mundo inteiro. Que respeite o produtor da sua matéria prima. Compre e determine quanto pagar na hora de carregar e não depois simplesmente quando já processou, já vendeu, e só aí dizer ao produtor quanto cabe a ele”, diz o pecuarista Fabrício Bran.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) Carlos Joel da Silva, é preciso também ajustar a rentabilidade em toda a cadeia, desde o produtor até o consumidor.
“A gente conhece muito bem é da porteira para dentro, mas da porteira para fora a gente entende que tem muita gordura para ser queimada. Tem gente que faz muito pouco pela cadeia e que ganha mais do que o produtor”, critica.
Novo perfil da produção de leite
Quem trabalha em larga escala teoricamente leva vantagem. por isso, o perfil da pecuária leiteira vem mudando no mundo inteiro.
“Já sabe que 7% dos produtores produzem 50% do leite do país. Eu acho que esse é o caminho que o Brasil vai trilhar como aconteceu nos Estados Unidos. Os americanos tinham dois milhões e meio de produtores nos anos 50 e hoje tem menos de 25 mil, menos de 1%”, pontua o produtor Roberto Jank.
No Brasil, essa mudança no perfil do produtor também parece inevitável, mas especialistas dizem que ela precisa acontecer com planejamento e participação do governo pela importância social da atividade no país.
“Nós temos produtores que não estão tendo a oportunidade de fazer a coisa direito e é para esse produtor que a gente tem que dar atenção. Porque tem um lado social muito importante, afinal o leite faz a multiplicação de emprego e renda na maioria dos municípios brasileiros”, afirma o técnico da Embrapa Leite Paulo do Carmo Martins.
Para aqueles que ainda não tem escala, um dos caminhos para tentar sobreviver na atividade é agregar valor ao produto.
“Eu acho que o Brasil tem todas essas oportunidades para crescer, de atender esses nichos que são extratos na população consumidora, mas são extratos que precisam ser atendidos, seja no orgânico, no A2, no produto mais fresco, menos processado”, destaca o produtor Roberto Jank.
Jank diz, ainda, que o produtor deve se profissionalizar, ou então correrá o risco de desaparecer do mercado. “Eu acho isso muito importante porque criou-se um viés de profissionalismo do produtor brasileiro onde ele é obrigado a ganhar escalar, eficiente, nos processos, explorar bastante o sistema produtivo dele. Eu acho isso muito positivo”, finaliza.
VEJA TAMBÉM
Diferença entre os valores das carnes de frango e de boi é a 2ª maior da série
Enquanto os preços da carne de frango estão em queda nesta parcial de janeiro (até o dia 20), os da proteína bovina estão em alta. –
Leia MaisÁrea da safra 2021/22 de milho na Argentina deve crescer 4,1%
A área a ser cultivada com milho na Argentina na safra 2021/22 deverá ocupar 10,1 milhões de hectares, crescendo 4,1% ante os 9,7 milhões de –
Leia MaisÁrea de soja deve superar a de milho nos Estados Unidos
A área semeada com soja nos Estados Unidos deve superar a do milho pela segunda vez na história neste ano, de acordo com a Farm –
Leia MaisMilho: plantio atinge 96% da área no RS, diz Emater; colheita chega a 27%
O plantio de milho atinge 96% da área no Rio Grande do Sul, de acordo com levantamento da Emater. Na semana passada, eram 95%. Em –
Leia MaisEUA seguem como destino número um da carne bovina brasileira
Após pouco mais de três meses, os envios de carne bovina à China foram retomados na segunda quinzena de dezembro. Conforme dados da Secex, no –
Leia MaisSuínos: relação de troca por milho é a pior da história, aponta Cepea
O preço do suíno vivo tem registrado queda intensa neste mês, causada pela combinação de vendas lentas e oferta elevada de animais para abate. A –
Leia MaisFrança notifica mais 4 casos da cepa HPAI de gripe aviária; total é de 356
O Ministério da Agricultura da França confirmou, até a última terça-feira (15), mais quatro casos de uma cepa altamente patogênica de gripe aviária (HPAI), que –
Leia MaisRegistros de animais de raça crescem 13% em 2021
Alinhados com a expansão e a valorização da pecuária na economia brasileira, os registros de animais de raça aumentaram 13% em 2021. O crescimento resulta –
Leia MaisEUA confirma registro da cepa H5 da gripe aviária na Carolina do Sul
O Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal (APHIS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) confirmou o registro de gripe aviária da –
Leia MaisMilho: exportações do Brasil devem totalizar 2,6 mi de toneladas em janeiro
As exportações brasileiras de milho deverão ficar em 2,685 milhões de toneladas em janeiro, conforme levantamento semanal da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). –
Leia Mais