Produtores de leite relatam dificuldades e pedem mais recursos no Plano Safra
Os produtores de leite seguem pedindo um olhar atento do governo federal para a situação da cadeia produtiva. O momento é oportuno, já que o orçamento da União passa por discussão e análise, e, se aprovado como está, poderá ter impacto nos recursos do próximo Plano Safra 2021/2022.
A crise provocada pelos altos custos de produção do leite, recuo dos preços pagos ao produtor, as importações e diminuição do consumo por parte da população que perdeu renda, por causa da pandemia da Covid-19, são fatores que exigem uma gestão eficiente para se manter na atividade. O setor alerta que alguns produtores estão abrindo mão da criação, vendendo os animais para pagar as contas do mês.
- Leite: preço recua quase 10% em 2021 e aperta margem do produtor
- Casal de SC implanta sistema que permite algo raro na produção de leite: tirar férias
Awilson Viana é produtor de leite no município de Candeias (MG), e um dos líderes do Movimento Inconfidência Leiteira. Ele diz que está complicado alcançar a rentabilidade esperada com a produção.
“Temos um problema, hoje, gravíssimo com os custos nas alturas. O preço ao produtor não tem reação e o mercado interno está frio devido às consequências econômicas e sanitárias que nós vivemos. Um mercado externo aquecido, mas que ainda não reflete o preço na nossa remuneração. Nós precisamos de mais aporte financeiro para o setor agrícola, principalmente, para os pequenos produtores, da agricultura familiar em vista da situação econômica que nós temos. A agricultura familiar é quem traz a comida para dentro das casas dos brasileiros. Nós precisamos de mais recursos e não de diminuição”, reforça Viana.
Leonel Fonseca também é produtor de leite no município de Pelotas (RS). Ele conta que a maioria dos produtores está vendendo as matrizes para os frigoríficos para pagar as contas e que o modelo de relação com a indústria está ultrapassado.
“A gente vem trabalhando com extrema dificuldade, com margens negativas porque, além da pandemia da Covid-19, estamos sofrendo um aumento dos insumos inerentes à produção de leite. Esse modelo ultrapassado com mais de 30 anos, que nós temos, não nos serve mais. O cenário, que a gente está vendo, é um desmonte da cadeia. A gente precisa de políticas públicas de Estado. Não dá mais para a gente trabalhar sem o mínimo de garantia jurídica na nossa atividade , sem o mínimo de previsibilidade do que iremos receber. Nós contratamos os nossos insumos e após produzirmos por 40 dias nosso produto, precificam ele. A grande maioria dos produtores, para poder honrar os seus compromissos, está vendendo matrizes para frigoríficos para se manter na atividade”, conta Fonseca.
Marco Sérgio Batista Xavier, produtor de leite em Goiás, diz que é necessária uma política pública específica para a atividade leiteira ganhar mais competividade e que seja considerada a realidade e a opinião de quem produz.
“O consumidor e a sociedade não têm ideia como é a atividade do produtor de leite. O nosso problema maior não é da porteira para dentro, é da porteira para fora. Nós estamos de forma insistente tentando alterar essa situação, para que as relações entre o produtor de leite e as indústrias, seja de forma mais digna. Nós queremos que surjam ações governamentais, mas com a nossa atuação da classe, porque nós não queremos soluções dentro de gabinete como uma surpresa para nós, sem fazer as interferências necessárias da porteira para fora. O nosso custo é feito em soja, milho, diesel, energia elétrica, adubo, ureia e o custo Brasil. Nós queremos estar extremamente competentes dentro da cadeia láctea, concorrer com qualquer país”.
Para o produtor Reinaldo de Boer, de Castro (PR), antes de promover cortes no orçamento, o governo precisa olhar com mais atenção para a produção leiteira. Ele reforça a importância social e econômica para a atividade.
“É um setor que está em 99% dos municípios do país. É uma questão social como os produtores têm frisado. Esse corte no orçamento para o setor seria muito ruim, no momento, uma vez que o setor atravessa uma crise , principalmente, em custos, que estão altíssimos. Está bem difícil trabalhar com o setor. Eu acho que esse governo tem que socorrer um setor que gera tanto emprego”, afirma o produtor.
De acordo com Rafael Hermann, coordenador do Movimento Construindo Leite Brasil, afirma que o Ministério da Agricultura tem dado atenção aos produtores, mas os problemas do setor ainda seguem sem solução.
“Nós últimos meses, a gente teve, através do governo federal, a notícia do crédito retenção de matrizes, que não foi bem aceito pela classe porque são somente dois anos para pagar . Eu acho que nós precisamos de um crédito com uma carência, um prazo de três a quatros anos para pagar porque o produtor brasileiro, enfrenta uma situação bem difícil, através das importações onde não se pode mexer. As indústrias importaram o que puderam, inundaram o mercado interno, derrubando os preços internos aos produtores. Somos praticamente um milhão 175 mil propriedades produzindo leite e nós precisamos um pouco mais de atenção”, diz Hermann.
Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), destaca que o setor precisa de mais crédito oficial. Ele espera um aumento no volume dos recursos ofertados.
“O preço do leite para o produtor está muito baixo e os insumos muito altos. Esperamos que no Plano Safra, o governo federal possa melhorar o que vai ser oferecido, principalmente, aos pequenos e médios produtores de leite do país onde a Abraleite vem cobrando e pedindo soluções ao governo federal”.
VEJA TAMBÉM
Milho: safra 2021/22 em Mato Grosso deve totalizar 39,6 mi de toneladas
Considerando que o panorama atual do milho em Mato Grosso para a safra 2021/22 não apresentou grandes alterações ante a estimativa anterior, o Imea manteve –
Leia MaisVolume de carne suína exportada bate recorde e cresce 29% em setembro
As exportações brasileiras de carne suína (incluindo todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 112,2 mil toneladas em setembro, recorde histórico nas exportações –
Leia MaisMilho: plantio da 1ª safra 2021/22 atinge 75% da área no Paraná
O Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, informou que o plantio da 1ª safra 2021/22 atingiu –
Leia MaisArroba do boi gordo inicia semana com forte queda nos preços
O mercado físico de boi gordo voltou a se deparar com queda acentuada nos preços da arroba na abertura da semana nas principais praças de –
Leia MaisDesafio da Pecuária Responsável recebe inscrições de projetos de São Paulo
O Desafio da Pecuária Responsável está recebendo inscrições de projetos do Estado de São Paulo. A melhor iniciativa em benefício do bem-estar animal focado na –
Leia MaisGenética bovina: laboratórios em MT poderão produzir 55 mil embriões/ano
Produtores de leite e carne e especialistas do setor de melhoramento genético bovino comemoram um marco histórico para a pecuária de Mato Grosso – o –
Leia MaisBoi gordo: valor da arroba perde mais força e chega a R$ 290 em SP
O mercado físico de boi gordo voltou a registrar preços mais baixos nesta sexta-feira, 1. Segundo o analista da Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, –
Leia MaisCarne bovina: mesmo com ausência da China, exportações do Brasil crescem 31%
As exportações de carne bovina do Brasil encerraram o mês de setembro com alta de 31,38%. No mês passado, as vendas externas do produto atingiram –
Leia MaisSem China, preço da arroba leva tombo; confira os destaques desta sexta
Boi: arroba tem forte baixa sem aceno da China, diz Safras & Mercado Milho: saca segue em alta no físico, mas tem ajustes negativos nos –
Leia MaisMapa estuda prorrogar retirada da vacinação contra aftosa em 9 estados e no DF
O fim da vacinação contra a febre aftosa no Distrito Federal e mais nove estados que compõem o bloco 4 do cronograma nacional de retirada –
Leia Mais