Sensores detectam cio de vacas com seis horas de antecedência
Saber de forma rápida e precisa quando as vacas estão no cio é determinante para o planejamento reprodutivo em uma fazenda. A Embrapa Gado de Leite, de Minas Gerais, desenvolveu uma tecnologia que promete ajudar os pecuaristas. Sensores coletam dados sobre o consumo dos animais e detectam o cio com horas de antecedência.

Foto: Rubens Neiva/Embrapa
A técnica nasceu de uma descoberta de pesquisa conduzida pelo mestrando em Zootecnia Frederico Correia Cairo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Os estudos foram feitos em parceria com a Universidade de Wisconsin-Madison (Wisc), nos Estado Unidos, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os resultados mostraram que a variação no consumo e comportamento de ingestão de água e alimento de uma vaca leiteira é capaz de revelar se o animal irá entrar no cio com até seis horas de antecedência e garante maior precisão em relação à observação visual na fazenda.
“Sensores em cochos e bebedouros eletrônicos permitem identificar variações no consumo de alimento e água, causadas pela manifestação do estro (cio) em vacas leiteiras”, diz o pesquisador da Embrapa Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, que orientou as pesquisas.
- Vaca de três cores: especialista diz o que pode estar por trás deste mistério
- Primeiro bezerro editado geneticamente completa um ano em abril
A mudança no comportamento alimentar das vacas, quando estão próximas de manifestar o cio, foi a base para o desenvolvimento de modelos computacionais no laboratório do professor João Dórea, da Universidade de Wisconsin. Segundo ele, esses modelos irão permitir a produção de sensores para a identificação precisa e acurada de cio nas fazendas leiteiras.
“A pecuária de precisão tem evoluído bastante nesse aspecto e o estudo confirma a possibilidade de inclusão da funcionalidade ‘detecção de estro (cio)’ em chochos e bebedouros eletrônicos”, afirma a Mariana Campos, coorientadora do estudo e também pesquisadora da Embrapa.
Cairo, agora mestre em Zootecnia, diz que o estudo abre a possibilidade para o desenvolvimento de novos dispositivos e sensores que possibilitem identificar as variações do comportamento hídrico/alimentar causadas pelo estro. “Cochos e bebedouros eletrônicos que geram dados de forma automática ainda não apresentam a funcionalidade de gerar alertas de estro”, relata. Segundo ele, essa funcionalidade seria importante para melhorar o manejo reprodutivo na fazenda, evitando a perda de cios.

Foto: Embrapa
Vacas consomem menos no cio
Já era sabido que a manifestação de estro causa redução no consumo e comportamento alimentar. A pesquisa, realizada no campo experimental da Embrapa em Coronel Pacheco (MG), avaliou como ocorrem essas alterações no comportamento do animal, além de desenvolver e avaliar modelos para a detecção antecipada do cio.
Para tal, foram avaliados o consumo de alimento e água em dois ensaios com novilhas holandês X gir. A observação visual foi feita três vezes ao dia por 30 minutos (7h, meio-dia e 17h) enquanto o comportamento alimentar/hídrico das vacas era obtido por um sistema eletrônico de cochos e bebedouros. Durante a pesquisa, foram observados 99 eventos de estro. Duas séries temporais de sete dias foram coletadas: uma representando sete dias incluindo o dia do estro e a outra por sete dias sem evento de estro.
Com o intuito de desenvolver modelos capazes de detectar o estro com horas de antecedência, as séries temporais foram fracionadas em intervalos de seis horas. Mariana Campos conta que para cada intervalo de seis horas, o total de consumo de alimento, os números de visitas ao cocho e ao bebedouro e os tempos gastos consumindo alimento e bebendo água foram computados.
“Todas as variáveis apresentaram declínio significativo no dia do estro em comparação com os dias anteriores e com a série de anestro: redução entre 25% e 35%”, revela a pesquisadora.
Pecuária de precisão
Há diferentes estratégias para identificar o cio nos animais do rebanho. A observação visual é a mais tradicional. O produtor pode adotar um rufião, que montará a vaca com a presença de estro. Mesmo outra fêmea pode montar a vaca, mostrando que a inseminação pode ser efetuada.
Mas essa estratégia pode falhar, por erro ou descuido do observador, como explica Pereira: “O aumento do número de animais, da produtividade, além da redução de funcionários são mudanças que estão ocorrendo nos sistemas de produção de leite no País e é preciso adotar estratégias mais acuradas, que envolvam a pecuária de precisão”, defende o cientista.
Ele ressalta que a identificação do estro é um dos principais fatores responsáveis pela eficiência reprodutiva e que o desempenho reprodutivo ruim pode causar maior taxa de descarte de vacas e novilhas. “Mas, às vezes, o problema não é do animal, mas do observador, já que poucas vacas podem ser descritas como inférteis.” Dados apontam que cerca de 90% dos fatores para baixas taxas de detecção podem ser atribuídos ao manejo e apenas 10% à vaca.
O bom gerenciamento da reprodução do rebanho significa incrementar a produção e a lucratividade da atividade. “Para aumentar a eficiência de detecção do estro, o monitoramento automático do comportamento dos rebanhos leiteiros vem ganhando importância nos últimos anos”, lembra o autor da dissertação.
Cairo argumenta que a observação visual permite índices de detecção que podem variar de 50% a 90%. No entanto, o monitoramento constante da atividade reprodutiva do rebanho nem sempre pode ser feito devido à rotina das propriedades. “Os estudos envolvendo avaliação das variações que ocorrem em decorrência do estro são necessários para o desenvolvimento de algoritmos, que farão os sensores funcionarem, identificando as variações comportamentais relacionadas ao estro que sirvam de base para acionar alertas para a tomada de decisão”, conclui.
VEJA TAMBÉM
Plano Safra: setor de proteína animal questiona mudanças da linha Moderagro
A linha Moderagro passou por mudanças nas regras para a safra 2021/22 e, com isso, diversos setores de proteína animal ficaram impossibilitados de usar os –
Leia MaisBoi: animal ‘padrão China’ vale até R$ 5 a mais no mercado brasileiro
O mercado físico de boi gordo registrou preços estáveis nesta sexta-feira. Segundo o analista de Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias, os frigoríficos ainda operam –
Leia MaisBRF anuncia investimento de R$ 670 milhões na operação em MT
A BRF anunciou investimento de R$ 670 milhões em sua operação no estado de Mato Grosso. O montante será direcionado para a modernização e ampliação –
Leia MaisEmbrapa realiza 2º Ciclo de Palestras sobre Pecuária Tropical
Desde 22 de junho, a Embrapa Pecuária Sudeste e a Embrapa Cocais deram início ao 2º Ciclo de Palestras sobre Pecuária Tropical. O evento está –
Leia MaisJBS antecipa em 5 anos metas de desmatamento ilegal zero em quatro biomas
A JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder em proteína, antecipou de 2030 para 2025 sua meta de desmatamento ilegal zero para –
Leia MaisBoi gordo: pico de preços chegou a R$ 321 no indicador Cepea
Os preços do boi gordo atravessaram o primeiro semestre de 2021 em patamares firmes, de acordo com dados do Cepea. Com exceção de janeiro e –
Leia MaisPreço do suíno recua na 2ª quinzena de junho
Pesquisas do Cepea indicam que o mercado de suíno vivo independente esteve altamente demandado na primeira quinzena de junho, cenário que elevou as cotações do –
Leia MaisPreço do leite pago ao produtor dispara e bate recorde em junho
O preço do leite captado em maio e pago aos produtores em junho registou forte alta de 8% na “Média Brasil” líquida, indo para R$ –
Leia MaisMinistério da agricultura abre consulta pública sobre sanidade e abate de suínos
A Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), abriu consulta pública, pelo prazo de 60 dias, a proposta de Portaria –
Leia MaisConfinamento vem dando retorno para o pecuarista desde 2015
Diante do mercado altista, tanto na reposição de animais como na compra de insumos para nutrição do rebanho, o cenário para o confinador brasileiro este –
Leia Mais