ANÁLISE

Leite: entenda a alta nos preços e veja tendência para os próximos meses

Alta dos preços do leite está relacionada a um contexto de oferta limitada e demanda firme com auxílio emergencial

Por Canal Rural
30 de setembro de 2020 às 17h13

O litro do leite atingiu em agosto o maior preço da série histórica da média Brasil, calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O indicador passou de R$ 1,37 para R$ 1,94 por litro, entre janeiro e agosto, e acumulou uma alta de 43,5% em 2020.

De acordo com a pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, a alta dos preços está relacionada a um contexto de oferta restrita e demanda firme. “Essa alta de preços em 2020 está relacionada a um contexto de oferta limitada e a uma demanda que seguiu firme por conta do auxílio emergencial. E essa oferta limitada está ligada a questões climáticas que foram mais severas este ano, então intensificaram os efeitos da entressafra. Também temos que lembrar do dólar que está mais valorizado frente ao real, que impediu volumes expressivos de importação no primeiro semestre. Observamos também redução de estoques de derivados lácteos, que está ligada a recuperação do consumo nesse momento da pandemia ancorada a programas de auxílio emergencial”, analisa Grigol.

Apesar da alta no preço, o aumento de custos da produção limitou o ganho de renda do produtor. O índice de custo de produção do leite (ICPLeite/Embrapa) mostrou alta acumulada de 5,59% em 2020 e de 9,60% nos últimos 12 meses. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Paulo Martins, destaca o aumento de custo da alimentação concentrada. “A gente tem percebido um crescimento do custo de produção continuamente no leite. Um dos pontos principais é a questão da alimentação concentrada, ração, milho e soja ficaram muito caros nos últimos tempos”, afirma.  

O Censo Agropecuário do IBGE mostrou uma redução de 12,9% de estabelecimentos com produção de leite entre 2006 e 2017, queda esta de quase 175 mil unidades produtoras. O aumento dos custos de produção e a baixa rentabilidade histórica desestimula o produtor a fazer novos investimentos e reduz a capacidade de retomada da atividade, de acordo com Natália Grigol.

O aumento dos preços ao produtor ainda não foi completamente repassado ao consumidor, pois o leite no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula uma alta de 23% em 2020. Sendo a segunda maior alta no IPCA entre produtos da cesta básica.

A alta dos preços tem incentivado o aumento das importações de leite e derivados. Desde maio, o volume cresceu continuamente mês a mês e atingiu 15,3 mil toneladas em agosto, o maior patamar desde novembro de 2018. De acordo com Geraldo Borges da Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite), o movimento é normal e esperado. “Natural pelo preço que o leite atingiu no Brasil, ainda mais o preço spot, leite comprado no mercado pecuário, que haveria tendência de aumento das importações. Já que estava chegando a um preço que viabiliza as importações apesar do dólar alto. Ainda não houve efeito dentro da cadeia. Temos preocupação que o aumento dessas importações possam vir a prejudicar os produtores nacionais, a gente sempre bateu nessa tecla”, pontua. 

Tendência

Tendo isso em vista, é importante projetar até que que patamar os preços do leite podem chegar no Brasil. O analista e consultor da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, acredita em preços firmes no curto prazo. “A gente tem agora para setembro preços firmes do produtor (também para atacado e varejo) e outubro e novembro vai depender do período chuvoso. Região sudeste tem expectativa de atraso das chuvas e pode refletir nas pastagens e atrasar um pouco a retomada mais forte da produção”, projeta.  

A pesquisadora Natalia Grigol afirma que a expectativa é positiva e que o clima será o fator preponderante. “Pensando no ano que vem, existe expectativa positiva na atividade por conta dos investimentos que estão represados. O que vai determinar é a questão climática e a disposição do produtor de fazer investimentos. Se produtor fizer investimentos equilibrados, ano que vem pode ter produção e eficiência mais consistente”, estima.