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INOVAÇÃO NA OVINOCULTURA

Melhoramento genético da Embrapa cria a “ovelha do futuro”

Projeto aposta em animais com mais carne, menos lã e maior prolificidade, garantindo rentabilidade à ovinocultura de corte

Por Cássia Carolina
03 de outubro de 2025 às 11h31
Melhoramento genético da Embrapa cria a “ovelha do futuro”

FOTO: Keke Barcellos l Divulgação

Pecuarista, imagine um rebanho ovino que gera mais cordeiros por parto, produz mais carne de qualidade, não exige os custos anuais de tosquia e ainda é mais resistente a verminoses. Parece um sonho? Pois saiba que a Embrapa Pecuária Sul (RS) está transformando essa visão em realidade com um projeto que eles chamam de “ovelha do futuro”. A ferramenta por trás dessa revolução é o melhoramento genético focado em resultados práticos para o seu negócio.

A iniciativa busca entregar ao ovinocultor de corte um animal completo: mais eficiente, produtivo e, acima de tudo, mais rentável. Segundo o pesquisador da Embrapa, José Carlos Ferrugem, a seleção assistida por meio do melhoramento genético tem o potencial de duplicar a eficácia produtiva na ovinocultura. Isso significa uma nova e muito mais vantajosa relação entre suas receitas e despesas.

Mas o que, na prática, essa “ovelha do futuro” oferece? A pesquisa da Embrapa conseguiu reunir quatro características estratégicas em um mesmo animal:

Melhoramento genético de ovelhas

FOTO: Carlos Hoff de Souza l Divulgação

  1. Mais Crias no Pasto (Maior Prolificidade) Aumentar o número de cordeiros nascidos é o caminho mais rápido para ampliar a receita. Utilizando genes já conhecidos e validados, como o Booroola, o Embrapa e o Vacaria, a pesquisa garante ovelhas com maior capacidade de gerar partos duplos ou triplos. Na prática, isso significa vender mais cordeiros por ano sem precisar aumentar o número de matrizes no rebanho, otimizando seu pasto e seus recursos.
  2. Carcaças Mais Pesadas e com Melhor Rendimento O melhoramento genético para qualidade de carcaça é liderado pelo gene “Bombacha”, identificado na raça Texel. Ele atua diretamente na conformação dos cortes mais nobres, como o pernil. A expectativa, segundo a Embrapa, é um aumento de 9% no peso médio das carcaças (de 17 kg para 18,5 kg) e um ganho de 5% no rendimento (de 40% para 42%). No fim do dia, isso se traduz em mais dinheiro no seu bolso a cada animal vendido ao frigorífico.
  3. Redução de Custos com a Perda Natural de Lã O custo com a tosquia, que na região de Bagé (RS) gira em torno de R$ 12 por cabeça, muitas vezes não é coberto pelo baixo valor de venda da lã. O melhoramento genético para a perda espontânea do velo, selecionado a partir da observação de animais com essa característica (fenótipo), elimina essa despesa e a dependência de mão de obra especializada, que está cada vez mais escassa e cara.
  4. Menos Gastos com Remédios (Resistência à Verminose) A quarta característica, a resistência às verminoses, é um pilar fundamental para a sustentabilidade e a redução de custos. Animais geneticamente mais resistentes adoecem menos, exigem menos manejo sanitário e, consequentemente, diminuem os gastos com medicamentos, além de representarem um rebanho mais saudável e produtivo.
Ovinocultura da Embrapa

FOTO: Keke Barcellos l Divulgação

Da Pesquisa Para o Seu Pasto

O projeto já saiu dos campos experimentais da Embrapa e está em fase de validação com produtores parceiros. Reprodutores melhorados estão sendo cedidos, via comodato, para que acasalem com ovelhas comerciais. O objetivo é acompanhar mais de 1.000 cordeiros nascidos desses cruzamentos, validando o impacto do melhoramento genético em condições reais de produção.

O mais interessante, segundo o pesquisador João Carlos de Oliveira, é que o projeto visa dar autonomia ao produtor. A ideia é que você possa projetar a sua própria “ovelha do futuro”, selecionando as características que mais agregam valor ao seu sistema de produção. Se o seu rebanho já é deslanado, por exemplo, você pode focar em incorporar os genes para mais carne e mais crias, montando o animal ideal para a sua fazenda.

O trabalho da Embrapa Pecuária Sul reforça que o melhoramento genético é a ferramenta mais poderosa para o pecuarista moderno, capaz de impulsionar a produtividade, reduzir custos e garantir a sustentabilidade e a lucratividade da ovinocultura de corte no Brasil.