Pastagens: novo protocolo da Embrapa pode transformar pecuária de corte

Método identifica lacunas na capacidade de suporte do pasto analisando clima, solo, animais e vegetais envolvidos no sistema

Por Luis Roberto Toledo
25 de julho de 2024 às 18h12

Embrapa desenvolveu um protocolo que contribui para avaliar as oportunidades de intensificação dos sistemas de pecuária de corte a pasto, um dos principais desafios do setor para reduzir os impactos ambientais negativos. A análise de “yield gap” (lacuna de produtividade) permite estimar a diferença entre a produtividade atual e a potencial das pastagens e identificar oportunidades para atender ao aumento projetado na demanda por produtos agrícolas.

Também servirá para apoiar a tomada de decisões em pesquisa, políticas públicas, desenvolvimento e investimento.

O protocolo foi aplicado para estimar o aumento de produtividade de sistemas de produção de bovinos de corte em diferentes cenários de manejo no Brasil Central. Apresentado por pesquisadores da Embrapa na revista internacional Field Crops Research, o método determina as diferenças de produtividade e capacidade de suporte das pastagens.

“O protocolo permite avaliar a capacidade de suporte das pastagens por meio de dois indicadores: a taxa de lotação máxima e a taxa de lotação crítica,” afirma Patrícia Menezes Santos, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) e coordenadora do trabalho.

A taxa de lotação máxima é alcançada quando toda a forragem produzida é colhida com máxima eficiência, enquanto a taxa de lotação crítica representa a maior taxa de lotação constante que não implica falta de alimentos em algum período do ano. Esse protocolo permite simular a produção do pasto, as taxas de lotação animal e estimar o risco climático associado à disponibilidade de alimentos para o gado.

Segundo Santos, existem lacunas na capacidade de suporte do pasto devido à interação entre clima, solo, componentes vegetais e animais do sistema.

“O método que desenvolvemos permitiu a identificação dos principais fatores que limitam a produção de forragem e a capacidade de suporte do pasto sob diversas condições ambientais e de nível tecnológico, podendo ser aplicado para apoiar políticas e decisões de investimento,” informa.

Resultados do protocolo

O protocolo foi aplicado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, abrangendo partes dos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Ele combina métodos para definição de zonas climáticas homogêneas, sistematização de dados primários de clima e solo, definição de cenários de produção, simulação de crescimento de plantas forrageiras a longo prazo, estimativa de capacidade de suporte das pastagens e cálculo da produtividade atual a partir de dados censitários.

Simulações de produção de forragem de longo prazo permitiram analisar o risco climático associado à produção de pastagens nas diferentes condições de clima e solo. Foi possível simular diferentes cenários com níveis variados de adubação nitrogenada e disponibilidade hídrica, identificando tecnologias promissoras para preencher as lacunas de produtividade.

O potencial de intensificação das pastagens no Brasil central foi estimado com base nos indicadores de taxa de lotação máxima e taxa de lotação crítica. O gap médio na taxa de lotação máxima variou de 5,81 a 5,12 unidade-animal por hectare (UA/ha) no cenário potencial, de 4,18 a 2,9 UA/ha no cenário irrigado e sem restrição de nitrogênio, e de 2,73 a 1,43 UA/ha no cenário de sequeiro e apenas com adubação nitrogenada de manutenção.

Planejamento e aplicações futuras

A produção sazonal de forragem impõe desafios aos sistemas de produção a pasto, pois as demandas nutricionais dos animais devem ser atendidas durante todo o ano. “A alta produtividade em uma determinada época não pode ser transferida para alimentar os animais em um período de seca, a menos que se adote algum tipo de prática de conservação de forragem, como fenação e ensilagem,” explica Luís Gustavo Barioni, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital (SP) e autor do artigo. A variação da produtividade das pastagens, influenciada pelo clima e combinada com a demanda alimentar, determina a avaliação da capacidade de suporte do pasto.

Os resultados indicaram lacunas de produtividade e oportunidades para a intensificação da produção de gado de corte a pasto, ajudando a orientar políticas públicas e o planejamento da atividade. O protocolo permite sinalizar onde os investimentos em recuperação de pastagens degradadas e intensificação da pecuária a pasto seriam mais promissores, além de indicar a necessidade de políticas de financiamento considerarem o acesso a tecnologias complementares para alimentação dos animais no período desfavorável.

Barioni complementa que a integração lavoura-pecuária é uma alternativa interessante para acompanhar a sazonalidade da oferta de forragem. O método desenvolvido pode ser utilizado pelo produtor rural para melhor planejar a implantação desses sistemas de produção, considerando os períodos de excedente de forragem e épocas de escassez.

O protocolo também pode orientar o seguro rural associado à produção pecuária em pastagens. O déficit acumulado de forragem foi aplicado, por exemplo, no estudo do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a pecuária de corte aprovado pelo Ministério da Agricultura (Mapa).

O Zarc Pecuária visa identificar áreas de menor risco climático e definir as melhores regiões para produção de bovinos em pasto de capim-marandu, no Distrito Federal e em 17 estados. Com isso, é possível verificar a taxa de lotação crítica das pastagens em cada município e os meses com maior risco de falta de alimentos, embasando a oferta de crédito e seguro rural no país.