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PECUÁRIA DE CORTE

Cria, recria e engorda: como cada fase impacta o desempenho do gado de corte

Especialistas do Sul e Nordeste mostram como decisões estratégicas em cada etapa da produção podem influenciar diretamente na carcaça, nos custos e na rentabilidade

Por Cássia Carolina
07 de julho de 2025 às 18h44
Cria, recria e engorda

Foto: Divulgação l Scot Consultoria

Na pecuária de corte, entender as fases de cria, recria e engorda é fundamental para garantir o bom desempenho do rebanho e alcançar melhores resultados econômicos. A cria vai do nascimento até o desmame e foca na saúde dos bezerros e manejo das matrizes. A recria, do desmame até o início da engorda, exige atenção ao ganho de peso e nutrição. Já a engorda (ou terminação) prepara o animal para o abate, com estratégias voltadas ao acabamento de carcaça.

A aplicação prática dessas fases exige planejamento, manejo adequado e decisões estratégicas. O zootecnista e gerente de pecuária do Grupo Ceolin, Juca Quintana, um dos maiores grupos agropecuários do Sul do país, com sede em Uruguaiana (RS), explica a importância de metas claras, controle de indicadores e qualificação da equipe. “Se você não definir onde quer chegar, não vai chegar a lugar nenhum. Então, tem que definir o rumo, elaborar planos, e isso tudo de acordo com a região onde você vai iniciar”, afirma.

Cria, recria e engorda_ o impacto de cada fase no desempenho do rebanho

Foto: Divulgação l Grupo Ceolin

Cria, recria e engorda: o impacto de cada fase no desempenho do rebanho

No sistema do Grupo Ceolin, as fêmeas passam por seleção para reposição no rebanho, enquanto os machos seguem para a invernada. Nenhum bezerro é vendido; todos são terminados dentro do próprio sistema, utilizando pastagens de verão e, posteriormente, pastagens de inverno ou confinamento, dependendo da estratégia do lote.

Na recria, o ganho médio diário é o principal indicador de desempenho. Para atingir a meta de peso com um ano de idade, Quintana destaca a necessidade de atenção à qualidade das pastagens, ao tipo de suplemento oferecido e à carga animal por hectare. Ele aconselha: “Quem não tiver pastagem para esse terneiro tem que pensar em campo diferido ou confinamento.” O manejo também deve considerar a meta do produtor: obter ganho individual ou maximizar o ganho por área. 

Decisões comerciais_ o elo entre produção e rentabilidade

Foto: Divulgação l Grupo Ceolin

A sanidade do rebanho é outro ponto crítico. “Verminose, por exemplo, é uma perda recorrente quando o manejo sanitário não está em dia”, pontua Quintana.

A fase final de engorda, ou terminação, pode ocorrer em pastagens de inverno ou em confinamento. Parte dos animais do grupo retorna aos campos de inverno entre 18 e 20 meses. Já outros são levados ao confinamento para um acabamento mais uniforme antes do abate. O zootecnista explica que, no Sul, é comum que as fases sejam separadas entre propriedades distintas. “Apenas 20 a 25% das fazendas fazem ciclo completo. A cria costuma estar em áreas mais marginais, enquanto a recria e a engorda ficam com produtores que têm melhor estrutura, acesso a grãos e logística de venda.”

Rebanho do Grupo Ceolin

Foto: Divulgação l Grupo Ceolin

Decisões comerciais: o elo entre produção e rentabilidade

Mais do que planejamento técnico, o sucesso de um sistema de cria, recria e engorda também depende de uma gestão estratégica de pessoas e finanças. Segundo o gerente de pecuária do Grupo Ceolin, ter uma equipe engajada e comprometida com os objetivos da empresa é um dos pilares para alcançar bons resultados. “São as pessoas certas nos lugares certos, com espírito de vencer. Isso faz total diferença para o desempenho das funções e o crescimento do sistema”, afirma Quintana.

Outro ponto-chave é a gestão financeira sólida e alinhada ao mercado. Para o especialista, é essencial que o pecuarista saiba planejar os investimentos da propriedade, evitando decisões precipitadas e aproveitando as oportunidades do mercado. “A gestão é um ponto forte para profissionalizar o sistema. É ela que permite agir com estratégia, tanto na compra de insumos e animais quanto na venda, maximizando a rentabilidade e garantindo a sustentabilidade do negócio”, completa.

Do campo ao frigorífico: quando a recria compromete o abate

A forma como o animal é conduzido nas fases iniciais, especialmente a recria, impacta diretamente na qualidade da carcaça e na rentabilidade final da produção. É o que observa o zootecnista Vinícius Campos, especialista em pecuária e consultoria em abates, com atuação em diversas propriedades da região Nordeste do país.

Do campo ao frigorífico_ quando a recria compromete o abate

Foto: Divulgação l Scot Consultoria

Segundo ele, tanto na propriedade quanto no frigorífico, sinais de falhas no manejo são perceptíveis. “Se o animal tem baixo ganho de peso, adoece com frequência ou se desenvolve de forma lenta, já é um alerta de que as fases anteriores não foram bem conduzidas”, afirma.

Quando a recria é conduzida de forma adequada, o animal chega à fase de engorda com melhor estrutura corporal, exigindo menos tempo até o abate e apresentando carcaças mais valorizadas. Para o especialista, esse é um dos pontos mais importantes da cadeia. “A eficiência da recria encurta o tempo de terminação e melhora o resultado financeiro final.”

Terceirização exige critério e padrão genético

Em propriedades onde a recria ou a engorda são terceirizadas, o cuidado com o padrão dos animais deve ser redobrado. “Independentemente de quem realiza a fase, o trabalho tem que ser bem feito desde a cria. O produtor precisa priorizar raças especializadas em produção de carne e garantir que os parceiros tenham capacidade de explorar o máximo desempenho desses animais”, recomenda Vinícius.

Pecuária com visão de futuro_ desafios e oportunidades

Foto: Divulgação l Scot Consultoria

Com base em sua experiência no campo e nos frigoríficos, ele reforça que qualquer descuido nas fases iniciais compromete o ciclo inteiro. A atenção aos detalhes, desde a nutrição até a sanidade e o padrão racial, é o que garante uma pecuária mais eficiente, produtiva e rentável.

Pecuária com visão de futuro: desafios e oportunidades

A experiência de Vinícius Campos mostra que a eficiência na pecuária de corte está diretamente ligada à forma como cada fase é conduzida, desde a cria até a terminação. Investimentos em nutrição, sanidade e planejamento financeiro são essenciais para garantir que o animal chegue ao abate com bom desempenho e que a atividade seja sustentável do ponto de vista econômico.

Cria, recria e engorda na pecuária

Foto: Divulgação l Vinícius Campos

Para o profissional, compreender todo o ciclo produtivo é fundamental para alcançar bons resultados. “A pecuária hoje não oferece grandes margens de lucro. Por isso, cada decisão dentro da propriedade precisa ser pensada com critério, desde o nascimento do bezerro até a venda da carcaça”, afirma ele.