SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA

Pecuária no Pampa aposta em ciência para reduzir metano na pecuária

Projetos da Embrapa no Rio Grande do Sul unem genética, manejo e tecnologia para diminuir emissões e valorizar a carne brasileira

Por Cássia Carolina

No Pampa gaúcho, ciência e produtores se unem para transformar a pecuária em aliada no combate às mudanças climáticas. A Embrapa Pecuária Sul (RS) desenvolve metodologias inéditas para mensurar e selecionar animais que emitem menos metano na pecuária, ao mesmo tempo em que convertem o alimento consumido em maior ganho de peso.

Pecuária no Pampa aposta em ciência para reduzir metano na pecuária

FOTO: Divulgação l Felipe Rosa

As chamadas Provas de Emissões de Gases (PEG) já testaram mais de 150 reprodutores de raças como Angus, Charolês, Hereford, Braford e Brangus da própria Embrapa. O objetivo é identificar animais mais eficientes na relação entre consumo, ganho de peso e emissão de gases, criando um banco de dados robusto para programas de melhoramento genético.

Segundo a pesquisadora Cristina Genro, da Embrapa Pecuária Sul, a estratégia pode gerar impacto em escala nacional:

“Se pensarmos nessa característica espalhada por milhões de animais, a redução da emissão de metano pode ser extremamente significativa”, destaca.

O trabalho ganha relevância dentro do compromisso assumido pelo Brasil no Pacto Global do Metano, firmado na COP26, em 2021. O país se comprometeu a reduzir emissões desse gás, considerado estratégico no combate ao aquecimento global.

Nas PEGs, os animais são avaliados em ambiente controlado, logo após a Prova de Eficiência Alimentar, recebendo dietas padronizadas. Com base nos resultados, os reprodutores são classificados em grupos Elite, Superior e Comercial, facilitando o direcionamento da genética.

FOTO: Divulgação l Felipe Rosa

Tecnologia de ponta para monitorar emissões

Para ampliar os resultados, a Embrapa Pecuária Sul adquiriu o GreenFeed, equipamento automático que mede continuamente o metano expelido por cada animal. Com ele, será possível monitorar até 100 bovinos simultaneamente, acelerando a consolidação dos índices genéticos.

Esse avanço faz parte de um projeto aprovado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e pela Fapergs, que transformou a unidade da Embrapa em centro de referência em gases de efeito estufa (GEE) no Rio Grande do Sul.

Manejo de pastagens também faz diferença

Além do melhoramento genético, o manejo adequado das pastagens é outro fator chave. Estudos no bioma Pampa mostram que animais terminados em integração lavoura-pecuária, em altura ideal de pastejo, emitiram 30% menos metano que os índices de referência do IPCC.

A recomendação da Embrapa é medir a altura das pastagens regularmente e ajustar a lotação de animais por hectare. Quando bem manejado, o pasto acumula mais carbono no solo e reduz a emissão por animal, conciliando produção e sustentabilidade.

Sustentabilidade no manejo de pastagem

Perspectiva de mercado

As pesquisas também validam conceitos já lançados pela Embrapa, como Carne Carbono Neutro (CCN), Carne Baixo Carbono (CBC) e Carbono Nativo (CN), reforçando a valorização da carne produzida no Sul do Brasil.

De acordo com Cristina Genro, o potencial de mitigação pode chegar a 38% com melhoramento genético, 20% com ajustes de dieta e até 35% com manejo adequado de pastagens.

“Tudo isso pode oferecer uma perspectiva de valorização da carne gaúcha em um mercado cada vez mais exigente por qualidade e sustentabilidade”, afirma.

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