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EUA vs BRASIL

De onde vem o plano de taxação do Presidente Trump?

Peter Navarro, economista por trás das tarifas de Trump, volta ao centro do debate após nova taxação ao Brasil

Por Cássia Carolina
18 de julho de 2025 às 18h00
De onde vem o plano de taxação do Presidente Trump

Foto: Divulgação l Gage Skidmore

Nos últimos dias, o anúncio de um plano de taxação de 50% sobre produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos ganhou destaque nos noticiários. A medida, comunicada pelo presidente Donald Trump em carta enviada ao presidente Lula, foi justificada como uma resposta às medidas impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde a processos no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas o Brasil não é o único alvo. Outros 40 países, como Japão, Coreia do Sul e diversas economias emergentes, também foram incluídos na nova política tarifária, com alíquotas variando entre 25% e 35%. O Canadá, por exemplo, deve ser taxado em 35%.

Trump alega que as novas tarifas visam proteger a indústria americana e corrigir desequilíbrios comerciais causados por subsídios e práticas desleais de outros países. No entanto, essa ofensiva tarifária tem raízes mais profundas, e um protagonista curioso por trás das ideias.

Quem é o mentor do “tarifaço”?

A origem do plano remonta à primeira campanha presidencial de Trump, em 2016. Durante a busca por propostas contra a influência econômica da China, Jared Kushner, genro e conselheiro do então candidato, encontrou na Amazon o livro Death by China, de Peter Navarro. Segundo informações do site norte-americano MSNBC, a partir dessa descoberta, Navarro passou a integrar a equipe de Trump e tornou-se um dos principais conselheiros econômicos da Casa Branca.

Peter Navarro: o economista por trás das tarifas

Economista formado por Harvard, Navarro é uma figura polêmica. De acordo com apuração do UOL, começou a carreira como defensor do livre comércio, chegou a ser filiado ao Partido Democrata e disputou eleições. No entanto, a partir dos anos 2000, passou a adotar um discurso agressivo contra a China, que culminou na publicação de livros com forte viés protecionista.

Navarro ficou conhecido por ideias controversas, como a criação de um personagem fictício chamado Ron Vara, um anagrama de seu nome, que era citado como “especialista” em seus próprios livros. Ou seja, Ron Vara não existe, apesar de servir de base para as obras de Navarro, justificando inclusive o plano tarifário. Apesar da polêmica, Trump não se incomodou e o manteve como conselheiro próximo.

Leal ao presidente norte-americano, Navarro foi condenado a quatro meses de prisão por desobedecer uma intimação relacionada à investigação da invasão ao Capitólio. Ainda assim, continua defendendo com firmeza a imposição de tarifas como forma de reverter a desindustrialização americana.

Uma obsessão chamada China

Boa parte das políticas tarifárias defendidas por Navarro e implementadas por Trump tem a China como principal alvo. Em seus livros e artigos, ele acusa o país asiático de manipular o comércio global, praticar dumping, desvalorizar artificialmente sua moeda e explorar trabalhadores, tudo com o objetivo de dominar cadeias produtivas internacionais.

Conforme dados da CNN Brasil, a tese de Navarro é que as tarifas são um caminho necessário para reindustrializar os Estados Unidos, aumentar salários e frear o avanço da China. Mas, segundo especialistas, as medidas adotadas durante o governo Trump geraram perdas bilionárias nos mercados e aumentaram a incerteza global.

Peter Navarro e Donald Trump

Foto: Reprodução l Picryl

O que está em jogo para o Brasil?

O plano de taxação anunciado por Trump prevê uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025. Além da questão política envolvida, o presidente acusa o Brasil de impor barreiras comerciais injustas e ameaça ampliar ainda mais as sanções, caso haja retaliação.

O governo brasileiro reagiu com firmeza e classificou a carta de Trump como uma tentativa de ingerência e convocou uma reunião emergencial com ministros. O Itamaraty reforça que os EUA têm superávit comercial com o Brasil, o que enfraquece o argumento de “injustiça” comercial.

A medida dividiu opiniões: aliados de Bolsonaro elogiaram a ação de Trump, enquanto membros do governo criticaram a postura, apontando prejuízos econômicos. Bolsonaro, por sua vez, fez publicações nas redes sociais com críticas indiretas ao governo atual.

E a pecuária com isso?

O plano de taxação sobre produtos brasileiros acendeu um alerta no setor de carnes. De acordo com a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), uma tarifa de 50% pode inviabilizar as exportações de carne bovina aos EUA, um dos mercados mais relevantes para o Brasil.

O impacto seria amplo: desde os grandes frigoríficos até pequenos pecuaristas, toda a cadeia poderia ser afetada. A redução na competitividade comprometeria empregos, renda e até a formação de preços no mercado interno. A entidade alerta que disputas políticas não devem interferir no comércio agropecuário e defende a reabertura do diálogo com os Estados Unidos.