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SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA

Estudos apontam caminhos para reduzir emissões de metano na pecuária brasileira

Pesquisadores defendem que o manejo correto das pastagens e o aumento da produtividade por animal são as principais estratégias para mitigar o metano emitido pelos rebanhos

Por Cássia Carolina
20 de outubro de 2025 às 16h47
Estudos apontam caminhos para reduzir emissões de metano na pecuária brasileira

FOTO: Divulgação l Juliana Sussai

As emissões de metano da pecuária brasileira atingiram um recorde histórico em 2023, segundo levantamento do Observatório do Clima. O país liberou 20,8 milhões de toneladas de metano na atmosfera, 6% a mais que em 2020, e 75% desse total veio da agropecuária, especialmente da fermentação entérica, popularmente conhecida como o “arroto do boi”.

O resultado preocupa porque o Brasil se comprometeu, durante a COP26, a reduzir em 30% o volume de metano até 2030, tomando como base o nível de 2020. Para pesquisadores, o desafio é grande, mas há soluções concretas ao alcance do produtor rural.

Produtividade como aliada da redução de metano

De acordo com especialistas ouvidos pelo Jornal da Unesp, o caminho mais eficiente para mitigar as emissões de metano passa pela intensificação sustentável da pecuária — ou seja, produzir mais carne e leite com menos animais.

O professor Ricardo Reis, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jaboticabal, explica que o manejo das pastagens é uma das chaves para equilibrar produtividade e sustentabilidade.

“O grande problema é que muitos pecuaristas ainda não entendem a pastagem como uma cultura”, afirma. “Quando o capim é tratado como uma lavoura, com correção de solo, adubação e manejo adequado, o gado come melhor, emite menos metano e o solo passa a estocar carbono.”

Reis reforça que pastagens de qualidade reduzem a digestão de fibras pobres, principal causa da liberação de metano pelos ruminantes. Além de diminuir as emissões, o manejo correto evita a degradação ambiental e melhora o desempenho zootécnico do rebanho.

Debate sobre o tamanho do rebanho brasileiro

Outro ponto levantado pelos pesquisadores é a metodologia usada para calcular o rebanho nacional, que impacta diretamente nas estimativas de emissões. O engenheiro agrônomo Abmael Cardoso, da Unesp, contesta os números oficiais do IBGE, que estimam 238,2 milhões de cabeças de gado no país.

Segundo ele, os cálculos oficiais não refletem os ganhos de produtividade alcançados nas últimas décadas e acabam superestimando o número real de animais.

“Há um descompasso entre as metodologias usadas pela política fundiária e pela política ambiental. Isso distorce as emissões e ignora os avanços obtidos com sistemas integrados e o uso de tecnologias no campo”, explica Cardoso.

Mesmo reconhecendo o esforço dos órgãos públicos, o agrônomo defende estratégias de mitigação focadas na fase de cria, do nascimento ao desmame do bezerro. “Com bezerros mais pesados e produtivos, teremos menos animais para produzir o mesmo volume de carne e, consequentemente, menos emissões de metano”, conclui.

Um futuro mais eficiente e sustentável

A combinação de melhor manejo de pastagens, nutrição equilibrada e planejamento produtivo tem se mostrado o caminho mais promissor para que o Brasil cumpra sua meta de reduzir as emissões de metano.

Na prática, isso significa que o produtor é peça central da solução climática, com o poder de transformar o rebanho em uma ferramenta de mitigação, e não apenas de emissão. “Pastagem verde é sinônimo de boi saudável, solo fértil e futuro sustentável”, resume Ricardo Reis.