Grupo propõe dobrar área com ILPF no Brasil até 2030
A Associação Rede ILPF lançou um desafio para o Brasil em um dos painéis on-line do 2º Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (WCCLF 2021), nesta terça-feira, 4: chegar em 2030 com 35 milhões de hectares com sistemas de ILPF, o dobro da área atual, e com sistemas integrados 50% mais produtivos, com pelo menos 3 milhões de hectares com integração lavoura-pecuária-floresta certificados e monitorados.
“Com isso, conseguiríamos duplicar a produção brasileira de grãos, carne e leite, e transformaríamos de fato o Brasil na primeira grande potência agroambiental do planeta”, afirmou Renato Rodrigues, pesquisador da Embrapa Solos e presidente do Conselho Gestor da Associação Rede ILPF.
O pesquisador também apontou uma grande oportunidade para o país conseguir neutralizar todas as suas emissões de gases de efeito estufa, a partir de cálculos e projeções feitos por pesquisadores da Rede ILPF.
“Se convertermos metade da área [de 90 milhões de hectares] de pastagem degradada que temos hoje no Brasil para sistemas de ILPF, nós conseguiremos tornar o Brasil um país carbono neutro, ou seja, conseguiremos neutralizar todas as emissões de gases de efeito estufa não só do agro, mas de todos os setores, incluindo energia, indústria etc”, disse.
Rodrigues salientou que os desafios colocados são enormes, mas é possível superá-los. “Claro que precisaremos de tempo para converter metade dessa área de pastagens degradadas e aumentar as áreas com sistemas de ILPF, mas nós estamos avançando rápido. Saímos de menos de 2 milhões de hectares de ILPF em 2005 para 11,5 milhões em 2015. Hoje já temos 17,4 milhões de hectares.”
O Brasil é reconhecido mundialmente como potência da agricultura e importante produtor de alimentos, com uma trajetória de sucesso nas últimas quatro décadas, período em que aumentou 60% das áreas para cultivo de grãos, enquanto a produção subiu 390%.
“Isso representa um ganho de 200% em produtividade e um efeito poupa-terra de 200 milhões de hectares. Isso foi possível com agricultura baseada em ciência, empreendedorismo do produtor rural, forte atuação do setor privado, com parcerias público-privada como a Rede ILPF, além de políticas públicas e crédito rural”, lembrou o pesquisador.
Rodrigues também destacou a sustentabilidade da agricultura brasileira, apontando que o país consegue produzir enquanto preserva a natureza. “Hoje temos 66% da vegetação natural preservada, sendo que 20,5% estão dentro de áreas de produtores rurais, que são um grande agente de proteção dessa vegetação nativa.”
Desafios e oportunidades
Mas são muitos os desafios impostos para as próximas décadas. Globalização, crescimento populacional, esgotamento de recursos naturais, mudanças climáticas, degradação dos solos, necessidade de terras produtivas, urbanização crescente e complexidades geradas pela pandemia, aponta Rodrigues, exigirão ainda mais da agropecuária do Brasil, que tem papel fundamental na segurança alimentar do planeta.
“Lidar com esses desafios requer uma abordagem sistêmica que gerencie as complexidades de maneira sustentável, responsável e ética. O mundo tropical possui o que é preciso para transformar essa realidade. O Brasil tem um sistema muito bem estruturado de ciência e inovação no agro, possui clima adequado, terras que se encontram em algum nível de degradação e que ainda podem ser convertidas para terras mais produtivas. E contamos com o empreendedorismo tanto do produtor e do setor privado quanto do setor público”, ressalta.
Os sistemas de produção de alimentos baseados em baixa produtividade e que não tenham foco na saúde do ser humano e na conservação do meio ambiente não podem existir mais, de acordo com o pesquisador. “Temos o nível de consciência do consumidor cada vez maior, a necessidade de se adaptar às mudanças de climas futuros e a intensificação sustentável da produção. E os sistemas integrados de produção são a solução, em todas as combinações possíveis dos componentes lavoura, pecuária e floresta.”
Esses sistemas integrados são, segundo Rodrigues, passíveis de serem adotados por qualquer produtor, seja de pequeno, médio ou grande porte, em todos os biomas e em vários formatos, pois se adequam a qualquer realidade de propriedade rural.
“Além disso, sistemas de ILPF adicionam valor ao produto e aumentam a qualidade ambiental da fazenda, reduzem a necessidade de abertura de novas áreas, com a capacidade de produzir mais em uma mesma área, e também mitigam e reduzem a emissão de gás de efeito estufa. A Rede ILPF vem trabalhando para promover e incentivar a adoção de sistemas integrados para o benefício sociedade. Por isso não atuamos só com produtores, a rede atua desde a indústria de insumos até o consumidor final, passando por todas as etapas de dentro da porteira”, concluiu.
Futuro promissor para a ILPF
Paulo Herrmann, presidente da John Deere do Brasil, também participou do painel e fez projeções otimistas sobre o avanço dos sistemas de ILPF e da agropecuária no Brasil. Ele lembrou que uma série de fatores fizeram com que o agro tropical brasileiro se tornasse tão pujante ao longo dos últimos 50 anos, chegando a uma produção atual de 275 milhões de toneladas de grãos.
Fruto, segundo ele, do investimento em ciência e tecnologia pelo poder público, a partir da criação da Embrapa, em 1973, e também do trabalho e empreendedorismo dos produtores, que apostaram desde as décadas de 1960 e 1970 na adoção do sistema plantio direto, muito eficaz no combate à erosão e na retenção de carbono no solo.
Herrmann também salientou a importância fundamental da transformação produtiva do Cerrado e, já nos anos 1990, do advento da segunda safra, possíveis graças ao investimento em pesquisa e inovação. “E agora vem o coroamento de todo esse esforço, com os sistemas de integração entre o grão, a pecuária e a floresta, que estão sendo adotados não somente por pequenas propriedades. Cerca de 35% da área de grãos do Brasil já estão, de uma maneira ou outra, integrados”.
Herrmann acredita em um crescimento ainda mais forte do agro em um futuro próximo. “Nos próximos dez anos, com os investimentos que estão acontecendo neste momento em energia solar, em irrigação, em máquina agrícola, em semente e em molécula, dentro da propriedade, agregados aos investimentos direcionados na logística brasileira, para que os produtos sejam escoados para os portos mais rapidamente e de maneira mais barata, o agro brasileiro dará um salto ainda maior do que deu nos últimos 50 anos”.
O executivo projeta um crescimento nesta década na ordem de 200 milhões de toneladas de grãos ao ano, chegando a quase 500 milhões de toneladas, e agregação de mais 100 milhões de cabeças de gado às atuais 210 milhões, com intensificação sustentável e sem necessidade de abrir novas áreas para a produção.
“Todo esse crescimento pode ser feito em cima de 30 milhões de hectares, que vão sair daquelas áreas onde já criamos os bois hoje, de maneira extensiva, com a lotação de 1,4 animal por hectare a mais. A integração é a grande ferramenta que temos disponível no momento””, afirma.
Importância do cooperativismo na adoção de sistemas de ILPF
Renato Watanabe, gerente executivo da Cocamar, participou do painel e mostrou como a cooperativa vem implementando ações para incentivar a adoção da integração lavoura-pecuária na região noroeste do Paraná. O tema sistemas integrados é discutido há 20 anos entre os cooperados, especialmente por causa das dificuldades enfrentadas pelos produtores com os solos frágeis e suscetíveis à erosão da chamada região do arenito, onde a adoção de tecnologias sustentáveis é uma necessidade.
Criada em 1963, em Maringá (PR), por 46 pequenos produtores de cafés da região, a Cocamar conta hoje com 15 mil associados, com tamanho médio de 50 hectares por propriedade, que produzem sobretudo soja, milho, trigo, café e laranja, em 3,2 milhões de hectares no noroeste do Paraná, no oeste paulista e no sudoeste do Mato Grosso do Sul.
Na década de 2010, a cooperativa implementou seu programa de integração da lavoura de soja com a pecuária, para incentivar a adoção e oferecer assistência técnica aos produtores da região, a partir de parcerias firmadas com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar) e a Embrapa.
“Acreditamos que a pastagem é a verdadeira vocação da região do arenito, mas se quisermos melhorar a produtividade, teremos que melhorar as condições das pastagens degradadas e da pecuária na região. Pensamos para os próximos anos em uma pecuária que produza acima de 30 arrobas por hectare/ano, com uma média de 45 sacos de soja em sistemas integrados”, revelou Watanabe, citando resultados já obtidos em algumas propriedades.
Para auxiliar os cooperados no âmbito do projeto, a Cocamar tem investido na capacitação de sua equipe técnica formada por 120 agrônomos, sendo que 30 já estão treinados para os projetos de integração lavoura-pecuária, além da realização de diversos eventos de transferência de tecnologia, que chegavam a atender 18 mil produtores ao ano antes da pandemia. Além de campanhas de incentivo e encorajamento dos produtores para a adução do sistema integrado com soja e pecuária, com a realização de concursos e prêmios de produtividade.
VEJA TAMBÉM
Com alto custo de produção, abate de aves registra queda de 21% no RS
O número de aves abatidas no Rio Grande do Sul teve queda de 21% em junho. Segundo a organização avícola do estado, a retração reflete –
Leia MaisBoi gordo: valor da arroba perde força e oferta restrita impede maiores quedas de preço
O mercado físico de boi gordo registrou preços de estáveis a mais baixos nesta quarta-feira. Segundo o analista de Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, –
Leia MaisPreço do milho enfraquece relação de troca e preocupa produtores de aves e suínos
O alto custo de produção preocupa os suinocultores. Segundo a Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), o cenário de alta deve permanecer no segundo –
Leia MaisBoi gordo: com ligeira melhora demanda, preços no mercado físico variaram de forma pontual
Os consumidores foram às compras neste final de semana, levando a uma melhor saída de proteína bovina para o mercado interno. Com a sinalização de –
Leia Mais‘Piso salarial para agrônomos representa valorização profissional’
Uma medida provisória que trata da simplificação do ambiente de negócios está em discussão no congresso. O texto recebeu uma emenda que pede a revogação da –
Leia MaisPirarucu de manejo recebe indicação geográfica
O pirarucu de manejo recebeu nesta terça, 13, e o registro de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), publicado na Revista –
Leia MaisEnsino a distância não atende necessidades da graduação veterinária, diz presidente do CFMV
Um projeto de lei que permite que 10% do conteúdo do curso de graduação de medicina veterinária seja oferecido na modalidade de ensino a distância, –
Leia MaisBoi gordo: oferta restrita limita queda nos valores da arroba
O mercado físico de boi gordo registrou preços estáveis nesta terça-feira, 13. Segundo o analista de Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, os frigoríficos ainda –
Leia MaisAbate de aves registra queda de 21% no Rio Grande do Sul em junho
O número de abates de frango de corte no Rio Grande do Sul caiu 21,1% em junho na comparação com março deste ano, o que –
Leia MaisImportações de carne suína pela China seguirão em alta neste ano
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) atualizou os dados do setor de carnes em nível global. Segundo a Safras & Mercado, o foco –
Leia Mais