Couro anticovid: tratamento que inativa o vírus vem da pecuária brasileira

Conheça o tratamento de nanotecnologia aplicado no acabamento do couro capaz de inativar até 99% dos vírus até meia hora depois de entrar em contato

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19 de abril de 2021 às 11h13

Além de contribuir para a população se recuperar da pandemia ofecerendo alimentos de qualidade a preços acessíveis, a pecuária brasileira apresentou na última semana uma solução inovadora para o controle do vírus Sars-CoV-2. Trata-se do couro anticovid, produto que recebe um tratamento a partir de uma nanotecnologia em seu acabamento capaz de inativar 99% do vírus cerca de meia hora depois de entrar em contato com ele.

O Giro do Boi desta segunda, dia 19, tratou do tema em entrevistas com Daniel Minozzi, diretor e co-fundador da Nanox, a empresa de nanotecnologia que investiu nas pesquisas do couro anticovid, e com Ramon Torres, diretor técnico da JBS Couros, que irá disponibilizar o produto ao mercado.

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Minozzi destacou que as pesquisas que culminaram no lançamento da tecnologia, que é 100% brasileira, começaram junto à fundação da Nanox. “Nós estamos já há 17 anos no mercado. A Nanox é uma indústria química aqui do interior de SP, ela é […] um spin-off da UFSCar e da Unesp, do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais, que é um financiamento da Fapesp, onde nós criamos algumas tecnologias de manipulação de materiais em escala nanométrica. É a primeira empresa no Brasil a trabalhar com isso. Nós estamos trabalhando com isso desde o final de 2004 ou começo de 2005, então foi daí que surgiram os estudos. […] E a gente culminou no desenvolvimento de uma tecnologia patenteada nacional que tem ação antimicrobiana, que tem ação de eliminar microorganismos, de controlar microorganismos em seus perfis. Esse é o principal mote hoje, o principal trabalho que a Nanox vem desenvolvendo, de trabalhar diversos mercados e aplicações desses produtos antimicrobianos”, contextualizou.

Minozzi revelou que no início de 2020, enquanto a pandemia era descoberta, os conselheiros da empresa se reuniram para validar se a tecnologia antimicrobiana que estava sendo estudada seria aplicável ao novo coronavírus. “A gente já tinha claramente a visão de que o nosso produto, testado e homologado, controlava microorganismos como bactérias, fungos e alguns vírus. Mas se não sabia ao certo se ele funcionava com o vírus do Sars-CoV-2. […] Foi aí nesse momento que nós procuramos a USP e as universidades para que elas nos respaldassem na pesquisa com o produto – como a gente poderia comprovar, como poderia mostrar a funcionalidade do produto frente a esse microorganismo. […] E o único lugar que estava desenvolvendo isso no Brasil era o ICB, o Instituto de Ciências Biomédicas da USP, na pessoa do professor Lúcio Freitas e do professor Edson Durigon. Eram os dois pesquisadores que estavam sequenciando, nem se tinha muitas cepas no nosso país ainda e eles já estavam estudando todo o sequenciamento, desmembrando, testando alguns medicamentos frente ao vírus. Foi aí que nós fizemos uma parceria com a USP, para estudar a funcionalidade dos nossos materiais frente a esses microorganismos. Para a nossa boa surpresa, depois de alguns meses de estudo, o produto, depois de diversas avaliações, se mostrou confiável para as aplicações de mercado”, celebrou.

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A SOLUÇÃO VEM DA PECUÁRIA

Depois de validar a tecnologia, as duas companhias, Nanox e JBS Couros, se conheceram através de um fornecedor em comum que acreditou que havia sinergia entre elas. “Em janeiro a Organização Mundial da Saúde acabou decretando estado de emergência de saúde pública mundial. E a mesma Organização Mundial da Saúde, em março, decretou, então, a pandemia mundial advinda do evento da Covid-19. […] Ali, já se imaginava, todo mundo ainda estava tentando entender um pouco a força do vírus e as grandes indústrias de fármacos ao redor do planeta começaram a trabalhar de maneira expressiva e forte na busca de solução para isso através de drogas e medicamentos que pudessem eliminar o vírus ou conter a pandemia. E outras indústrias, como a JBS, começaram um trabalho que a gente entende como reforço, auxílio e busca de proteção à sociedade. Então a gente foi atrás de alternativas para poder auxiliar na mitigação da Covid-19”, recordou Ramon.

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“E aqui tem um ponto interessante a nossa pecuária, a cadeia do boi dentro do Brasil – e nós temos que ter orgulho disso – é responsável por essa conquista, pela eficácia e pelo sucesso desse projeto. […] Em março, quando foi decretada a pandemia, nós tivemos todas essas reuniões dentro da companhia […] para entender o que poderíamos fazer para auxiliar e nós começamos a buscar alternativas lá fora e, de repente, ela está ao nosso lado. Um parceiro em comum, que é uma outra indústria química, a QGP, e também faço aqui uma citação de agradecimento ao Silvestre, o proprietário dessa empresa, […] acabou nos colocando em contato. Foi aí que começou todo o desenho do projeto, a apresentação da tecnologia. A gente entendeu que existia sinergia primeiro entre crenças e valores das duas companhias e que a gente poderia agregar a tecnologia que já vinha sido desenvolvida há vários anos ao processo de acabamento dos couros”, comentou Torres.

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TRATAMENTO

“(O produto usado no tratamento do couro) Tem um dos componentes com a prata como princípio ativo principal. A prata é um dos componentes que é o ativo principal, que tem a capacidade de oxidar e de inibir o vírus. […] Essa incorporação é feita no acabamento do couro. Quando a gente vai fazer a produção do couro, nas etapas finais existe um produto de acabamento onde é feita a proteção do couro, da superfície do couro”, resumiu Minozzi.

“Em todo o processamento de couro até a parte do semiacabado, que é o recurtimento, nós temos três segmentos principais: o wet blue, aqui nas imagens a gente começa já a ver a parte do recurtimento, que é quando se faz toda a parte de tingimento do couro, e depois o acabamento. Essa tecnologia consiste em proteção da superfície (do couro). Então a aplicação desta tecnologia dentro do processo do couro se dá nas etapas de acabamento”, acrescentou Ramon.

De acordo com o diretor técnico da JBS Couros, o produto deve ser aplicado no processamento para que tenha o efeito desejado no produto. “É muito importante que a tecnologia esteja fundida, ligada ao acabamento do couro. Se você passa um creme superficialmente, provavelmente isso não tem o efeito que a gente precisa de proteção”, ponderou Torres.

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“Por que é importante esses projetos serem desenvolvidos juntos às empresas, como a JBS, com a indústria que está colocando essa tecnologia na superfície do couro, por exemplo, em uma carteira? Por causa da durabilidade. Diferente de um sanitizante, de um álcool, um produto que você passa e depois de um tempo vai embora, ele é uma propriedade agregada à superfície. Esse é o principal ponto, um dos principais diferenciais da tecnologia: sua durabilidade. Sua aplicação é feita já no meio industrial para que tenha uma resistência maior, uma proteção maior”, complementou Minozzi.

“O aditivo que a gente utiliza, esse antiviral que a gente aplica junto aos nossos processos, além de manter as características físico mecânicas (como as propriedades do couro percebidas pelos sentidos, como tato, visão), acaba dando mais resistência, mais durabilidade ao produto. O couro precisa de alguns protocolos de manuseio e cuidado e são protocolos simples, como uma limpeza com um paninho úmido, um sabãozinho neutro, existem produtos apropriados e hoje de fácil acesso que são usados para manter o couro com a característica viva. Então esse aditivo agregado ao acabamento dá uma condição de uso e durabilidade do couro muito importante quando a gente fala em sustentabilidade”, detalhou o diretor da JBS Couros.

Tratamento anticovid no couro é aplicado no acabamento do produto na indústria.

“Há muito tempo até nós nos questionávamos na Nanox o porquê de a gente estar desenvolvendo essa tecnologia, o porquê de nós estarmos fazendo uma tecnologia de controle antimicrobiano. E surgindo a pandemia e as nossas aplicações de mercado, como no couro, como no tecido, isso justificou a nossa existência. Acaba justificando de forma divina”, destacou Minozzi.

“A bandeira que a gente vem defendendo é com relação a sustentabilidade. Então as divisões da JBS trabalham no pilar hoje de sustentabilidade e o objetivo principal é levar proteção social, proteção ambiental, proteção econômica a toda a população mundial”, concluiu Ramon Torres.

+ Acesse aqui o site da Nanox

+ Acesse o site da JBS Couros

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Veja a entrevista completa e mais detalhes sobre a nanotecnologia que possibilita o tratamento anticovid ao couro bovino no vídeo a seguir: