MEIO AMBIENTE
COP26: Será que é fácil acabar com o aquecimento global?
Na visão do vice-Presidente de comunicação do CCAS, algumas soluções sugeridas parecem fáceis de serem solucionadas
O professor e vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Ciro Rosolem, na véspera da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 26), escreveu sobre algumas observações que surgiram em prol do tema, para tentar conter o aquecimento global. Como algumas soluções sugeridas parecem fáceis de serem solucionadas.
“A grande maioria oferece soluções simples e erradas, como a de que o modo mais fácil e barato de reduzir emissões é zerar o desmatamento. Não é simples nem barato, tanto do ponto de vista ambiental como econômico e social”. Afirma Rosolem.
O efeito no ambiente é resultado de uma interação complicada entre diversos fatores, passando pela industrialização, pela urbanização, pelo desenvolvimento social e econômico, pela produção de alimentos e matérias primas, além de componentes culturais e de educação, e provavelmente outros fatores.
Ainda segundo ele, em situações como estamos vivendo no momento, que não é de hoje, é importante ter muita calma, muito discernimento da verdade científica, e não correr para soluções aparentemente simples dadas pela ciência segmentada. “Há algumas semanas um grande jornal publicou que São Felix do Araguaia seria a segunda cidade com maior emissão de carbono no mundo. Muito mais que as grandes metrópoles cheias de carros, caminhões e ônibus. Isso porque o rebanho bovino é muito grande. Um deputado chegou ao absurdo de sugerir um imposto sobre o boi, punindo a emissão de carbono. Sim, sobre os combustíveis fósseis e sobre a boiada… A tal da ciência segmentada. A culpa é do boi. O negócio é que é muito mais fácil medir o carbono emitido pela agricultura e pecuária do que medir o sequestro de carbono pelo solo. É muito mais fácil seguir as Gretas da internet do que levar em conta o programa boi carbono zero divulgado pela EMBRAPA”.
É muito fácil acreditar em informações aparentemente divulgadas pelos meios de comunicação, sem conferir se a notícia é verídica. Informações divulgadas falam que as concentrações de óxido nitroso e metano são hoje mais que o dobro das observadas em 1750 e que esses gases são principalmente emitidos pelas atividades agropecuárias. Como? Nossa agricultura absorve metano, ou seja, o balanço de metano nas áreas agrícolas brasileiras é negativo. Nossa agricultura tira metano da atmosfera.
Hoje nós possuímos dados consolidados mostrando que as emissões de óxido nitroso em nossos sistemas agrícolas são pelo menos 4 vezes menores que aquelas consideradas inicialmente pelo IPCC.
A tal da ciência compartimentada, especialização em excesso. As emissões têm sido majoritariamente avaliadas e modeladas por diversos cientistas das mais diversas especialidades, mas ainda poucos especialistas em matéria orgânica, em carbono do solo.
Há resultados mostrando que nossos sistemas integrados lavoura pecuária, com rotação de culturas, podem sequestrar ao redor de 3 toneladas de carbono por hectare por ano, às vezes mais, quando o componente florestal entra na equação.
O boi emite metano, mas esse carbono do metano vem do pasto, que o tira da atmosfera. Trata-se de ciclagem de carbono, não de simples emissão. E o interessante é que o pasto fixa mais carbono no solo do que o emitido, em muitos casos de pastagens bem manejadas. Mas isso não dá muita audiência nas mídias sociais. Infelizmente.
Para encerrar sua síntese, o professor alerta novamente sobre as informações e pesquisas realizadas e divulgadas nas mídias. “Minha gente, precisamos parar de ler e ouvir somente as manchetes. Um resultado científico precisa de interpretação, de ponderação entre causas e efeitos. Não é à toa que são necessários quase 30 anos de estudo para se formar um doutor.”
Fonte: Alfapress