Se não serve a francês, não servirá aqui, diz Fávaro sobre carne e Carrefour

Ministro Carlos Fávaro apoia suspensão de fornecimento de carne ao Carrefour Brasil após veto do grupo francês às proteínas do Mercosul

Por Carla Silva
25 de novembro de 2024 às 11h00

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, endossou o posicionamento de entidades do setor produtivo e da indústria brasileira de carnes de sugerir o não fornecimento de carnes ao Carrefour também no Brasil, após a suspensão da compra de proteínas do Mercosul pelas unidades francesas do grupo. “Me surpreende a presidência local aqui no Brasil dizendo “não, nós vamos continuar comprando porque nós sabemos que tem boa procedência. Quem não quer comprar é a matriz lá, a França”. Ora, se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil”, disse Fávaro a jornalistas na noite da quinta-feira, 21, em evento de comemoração de dez anos da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

Na quarta-feira, 20, o CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou, em comunicado nas suas redes sociais, que a varejista se compromete a não vender carnes do Mercosul, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer. Na quinta, o Carrefour França afirmou que o veto à venda de carnes do Mercosul é válido apenas para as unidades da rede varejista no país, enquanto o Grupo Carrefour Brasil afirmou que “nada muda nas operações no País”.

O ministro afirmou que não se trata de um boicote ao grupo, mas que o Brasil tem de ter soberania. “Já vi o movimento por parte dos próprios produtores de carne, com o qual me solidarizo, que é um absurdo a empresa dizer que quem não quer comprar é a matriz, é a França. Aqui a carne dos brasileiros serve para o Carrefour. Não, não é assim não”, criticou Fávaro. “Tenham respeito pela nossa construção. Achei uma atitude louvável da indústria brasileira de falar: então, não vou fornecer também (à marca no Brasil). Uma atitude que mostra a soberania e o respeito à legislação brasileira tem o meu apoio”, acrescentou Favaro.

Na quinta, seis entidades do agronegócio se manifestaram repudiando a decisão do Carrefour, afirmando que se o grupo “entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano -, as entidades assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”.

O ministro disse, ainda, que “custa acreditar que está ocorrendo uma ação orquestrada por parte das empresas francesas”, mas que também não acredita em coincidências, citando um caso semelhante envolvendo o fornecimento de soja à francesa Danone no fim de outubro.

“Agora, o Carrefour, uma ação como essa. O Brasil não se nega a discutir sustentabilidade com ninguém, em nenhum lugar do mundo. Um governo e um País que têm compromisso com respeito ao meio ambiente, com a rastreabilidade, com a boa sanidade, com todos princípios ESG mas de forma alguma, será atacada a nossa soberania. Isso é irretocável”, defendeu Fávaro, citando as legislações rigorosas adotadas no País.

Por fim, o ministro disse crer que as empresas francesas “vão repensar o que estão falando da produção brasileira”.